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Cenário ideal

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O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em declarações em momentos distintos, desdenharam a possibilidade de uma terceira via na disputa presidencial de 2022. Liderando as pesquisas e cada um no seu extremo, fazem o discurso que lhes interessa. Ambos sabem dos riscos de um candidato de centro capaz de capitalizar os votos dos descontentes à direita e à esquerda.

E esse tem sido o dilema dos partidos fora desses dois polos. Há um desencontro de propósitos, e os nomes colocados não conseguem se mover nas pesquisas, como é o caso do ex-ministro Ciro Gomes. A despeito dos duros discursos contra os líderes das pesquisas, ele tem dificuldades em se fixar no centro, sobretudo por conta do tom adotado. Em vez da conciliação, tem o mesmo perfil de extremo de seus oponentes.

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Quando ocorreu a derrota da emenda Dante de Oliveira, que propunha a volta das eleições diretas no país, e passado o período de frustração das ruas, lideranças políticas como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves passaram a articular contatos com governistas descontentes com a possibilidade de o governador Paulo Maluf ser o candidato do regime, a despeito da antipatia que tinha do presidente João Figueiredo. Quando venceu o empresário Laudo Natel na disputa pelo governo estadual, Maluf comprou a briga também com o general Ernesto Geisel – mentor de Figueiredo.

No dia 15 de janeiro de 1985, sob um forte temporal em Brasília, mas com o Congresso lotado, numa sessão, que durou cerca de três horas e meia, Tancredo derrotou Maluf, que não tinha apoio unânime entre os militares. Foram 480 votos contra 180. A vitória veio no voto do deputado João Cunha (PMDB-SP), o de número 344, que garantiu a maioria ao candidato da oposição.

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Isso só foi possível porque o então governador de Minas conseguiu conciliar políticos de direita, de centro e de esquerda, dado que ainda não foi visualizado no atual cenário, o que reforça as expectativas de Bolsonaro e de Lula de serem os finalistas em 2022. A terceira via – embora falte um ano e meio para as eleições – ainda não se apresentou, e até mesmo entre os partidos que tentam emplacá-la há problemas. O PSDB, que faz prévias em outubro, assiste a um novo embate entre o governador João Doria, de São Paulo, e o deputado Aécio Neves. Em nota, o presidente do PSDB de Minas, Paulo Abi-Ackel, disse que o dirigente paulista terá dificuldades no voto dos mineiros por conta das críticas ao ex-governador.

Tais impasses formam o cenário ideal para Bolsonaro e Lula, que não gostariam de um nome capaz de capitalizar os descontentes. Esse possível candidato ainda não apareceu.

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