O excessivo número de partidos, a partir de 1979, quando acabou a dobradinha MDB e Arena, tem consequências. Mesmo nos tempos da campanha das diretas, período em que milhões de pessoas foram às ruas pedir a volta da democracia, a adesão às legendas sempre surpreendeu, por estar na contramão da mobilização. Salvo o Partido dos Trabalhadores, com forte viés ideológico, os demais sempre tiveram números tímidos.
Em Juiz de Fora, como a Tribuna mostrou na edição de domingo, em levantamento elaborado pelo repórter Renato Salles, o partido com maior número de filiados é o PSC, com 4.197 inscritos, seguido do PTB, com 3.676. Com 2.879, o PT, que já foi o primeiro, está na quinta posição, atrás também do Progressista, que tem 3.589 inscritos, e do PDT, com 3.419. Os números que o colocam nesta posição são pretéritos, pois, neste ano, a legenda, que esteve por três mandatos e meio à frente do país, só conquistou 34 novos filiados. O MDB, com 17, e o PSDB, com 15, e que também já ocuparam a Presidência da República, tiveram um desempenho ainda pior.
Pelo levantamento, apenas 1.741 pessoas entenderam a importância da filiação, muitos delas motivadas, naturalmente, por interesse eleitoral, isto é, com pretensão de disputar uma vaga na Câmara Municipal. A cidade, a despeito da fama de politizada, tem menos de 10% de sua população ligada oficialmente a alguma legenda. Os números, embora baixos, são o retrato do país.
Uma das causas desse cenário desidratado está no próprio comportamento dos partidos e no excesso de legendas. Os chamados grandes do período pós-democratização, como PT, PSDB e MDB, não souberam gerenciar suas políticas de adesão, especialmente tucanos e emedebistas, que estão longe dos números do início do século. Em Juiz de Fora, por exemplo, os tucanos não têm, hoje, um representante sequer na Câmara Municipal. O MDB também não. Sua bancada, de quatro representantes, mudou de rumo.
Com o fim das coligações, é provável que tal retrato mude nos próximos embates eleitorais. Mesmo num clima de pandemia, as eleições de novembro serão um importante teste, pois será cada um por si na disputa pela Câmara Municipal. Só a partir daí será possível verificar se as chamadas legendas de aluguel sairão de cena e se os partidos de viés ideológico voltarão a se consolidar.
A maior incógnita, agora, é como será a campanha em si, pois não haverá aglomeração, e boa parte dos embates vai se desenvolver na arena virtual. A conferir.