Na última sexta-feira, em reunião com integrantes da Frente Nacional de Prefeitos, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, revelou que o ministério decidiu fazer uma mudança na estratégia da vacinação contra a Covid-19 para as novas vacinas. Pela nova logística, cada nova dose será aplicada a uma pessoa, sem reservar metade do imunizante para a segunda dose, como vinha ocorrendo até aqui. Ele garantiu que não haverá risco para a população, pois o Governo conta com a chegada de novas doses, que serão aceleradas. De acordo com o ministro, as doses serão entregues até o início de março. A nova remessa de vacinas é composta por 2,7 milhões de doses do Instituto Butantan (Coronavac), produzidas no Brasil, e mais dois milhões da vacina da AstraZeneca/Oxford, importadas da Índia.
A proposta do ministro tem sentido, mas é uma operação de risco, pois conta com a chegada ou a produção de novas doses sem que haja garantia formal. O país tem várias regiões com a imunização paralisada exatamente pela falta de previsibilidade. O processo de vacinação começou sem garantias de continuidade, ampliando a apreensão da população – especialmente dos segmentos fora da linha de prioridade -, ora na expectativa de também ser atendida.
A incerteza se acentua à medida que a produção mundial ainda está aquém da demanda, e o Brasil não está entre as prioridades dos laboratórios e dos países produtores, como China e Índia, por conta da politização da vacina em passado recente. A produção própria é a melhor alternativa, mas esta também depende de insumos que continuam sendo importados.
Some-se isso o surgimento de novas cepas. Por enquanto, não há garantias da própria ciência de serem combatidas pelas atuais vacinas. Isso implica, além de tudo, medidas de combate às aglomerações pelo fato de a imunização de rebanho ainda ser uma linha tênue no horizonte.
Ademais, o carnaval da semana passada foi a mostra formal de despreocupação de vários segmentos que insistiram em ignorar as recomendações sanitárias e foram para ruas e clubes como se a pandemia fosse um fato pretérito. Não fosse a ação imediata de diversas prefeituras, o dano poderia ter sido maior ainda, embora as consequências só devam ser medidas a partir dos próximos dias.
A produção própria de vacina é o melhor dos mundos, e o Governo fez tal aposta, como foi dito aos prefeitos pelo ministro. A questão, porém, está no próprio histórico do ministério, que vira e mexe altera as suas ações por não ter uma estratégia clara de enfrentamento à pandemia.