A posse do novo presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, não foi um ato exclusivamente para os americanos. Tratou-se de um evento de efeito global ante a sua importância política e econômica para o restante do mundo. Se Trump, da linha isolacionista, fez uma gestão apartada do que ocorre em outros países, Biden, da mesma forma que seus recentes antecessores, é um globalista e já deu mostras ao retomar os acordos dos EUA com a Organização Mundial do Comércio e o de Paris, do qual o Brasil ainda participa, mas de quem recebe duras críticas pela política ambiental do ministro Ricardo Salles.
Sob a nova direção nos EUA, várias posturas também precisam ser revistas, como a do Governo brasileiro, que, no alinhamento pleno com a gestão Donald Trump, criou embaraços com outros países, especialmente com a China, de quem, agora, depende para a liberação de insumos para a implementação de vacinas. Em visita ao embaixador chinês, o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia, tentou abrir caminhos e ouviu do embaixador que a questão política não pesa no atraso dos insumos, sendo apenas uma questão técnica, mas seria ingenuidade considerar que apenas entraves burocráticos estão pesando. À tarde, o Governo disse que está negociando diretamente com a China e também com a embaixada e desconstruiu a ação de Maia ao dizer, no mesmo documento, ser o único interlocutor nas negociações.
A própria Índia, de quem também se esperava insumos para esta semana, deu prioridade aos vizinhos e aos parceiros mais próximos, sobretudo ante a abstenção do Brasil em vez de votar a seu favor no ingresso na Organização Mundial de Comércio. É fato que as relações comerciais são mais importantes, mas pequenos gestos podem levar a grandes problemas, especialmente quando eles são praticados por personagens relevantes das estruturas de poder.
A crise da pandemia é a face mais expressiva das ações temerárias do Governo e de alguns de seus agentes. Se houver atraso na vacinação, depois de todo o pacote de esperança com a aplicação das primeiras doses, as consequências poderão ser graves. Por isso é fundamental que o esforço para garantir a imunização seja de todos os atores políticos, como Rodrigo Maia, ao visitar o embaixador chinês, mas também nos pleitos, para que o Governo saia da defensiva e vá a campo resolver os impasses que ele mesmo criou. O momento não é da política.
O volume de vacinas disponível é insuficiente até para atender, em duas doses, aos profissionais que estão na linha de frente de combate à Covid-19, restando ainda os idosos e o restante da população. Este, especialmente, não tem data para ser atendido.