Entre as muitas leituras das eleições municipais, e que devem servir de referência para o pleito nacional de 2018 e o debate da reforma política, está o desempenho dos partidos. O eleitor deixou claro que vota no candidato, e não na legenda, salvo poucas exceções nas quais o viés ideológico ainda tem certa representação. De acordo com o Ibope, 67% dos entrevistados disseram que não se prendem a nenhum partido na hora do voto. Daí não haver constrangimento quando a candidata mais votada para a Câmara Municipal, Sheila Oliveira (PTC), disse que não segue ideologia partidária. “A gente precisa votar em pessoas, e não em partidos.”
Teoricamente, é um sacrilégio esse tipo de discurso, mas, na prática, ele é claro e real, pois é dessa forma que o eleitor tem se manifestado ao curso dos pleitos, resultado, na maioria das vezes, do modo como os partidos atuam no país. Quando ocorreram as primeiras manifestações populares, em junho de 2013, o alerta geral foi dado. Salvo os partidos de maior visibilidade, que ainda têm engajamento nas bases, os demais são resultado de acordos, nem sempre republicanos, que surgem especialmente no período eleitoral, passando em branco o restante do período.
Daí, quando se fala em reforma política, é inevitável avaliar a representatividade partidária e como ela deve ser forjada em consonância com as ruas. Está claro que há partidos em demasia, mas isso não esgota a discussão, já que a cláusula de desempenho poderia resolver parte da questão. Mas é necessário ir além, a fim de garantir que os partidos, de fato, representem o pensamento político de seus seguidores.
Hoje, as pesquisas apontam essa falta de identidade, pois as próprias legendas não se apresentam. Nem mesmo as direções são capazes de apontar a linha programática que deveriam defender, preferindo o velho varejo, pelo qual os acordos são forjados em cima de conveniências.