Para o consumo externo, os eleitores acompanham a performance dos candidatos tanto à Presidência da República quanto aos governos estaduais, mas não têm acesso aos bastidores que, de fato, são a discussão prioritária nos comitês de campanha. Num país com tantas características, ou até mesmo Estados do porte de Minas, Rio e São Paulo, nos quais há também uma grande diversificação, equilibrar os apoios tem sido um exercício permanente, bastando ver as mudanças frequentes nas listas de pré-candidatos.
Em Minas, o candidato Alexandre Kalil, do PSD, iniciou suas andanças levando aos municípios um projeto de chapa pura, tendo o deputado Agostinho Patrus como vice e o senador Alexandre Silveira como colega de chapa. O primeiro, presidente da Assembleia Legislativa, se filiou ao partido do ex-prefeito já pensando na composição. Silveira é, simplesmente, o presidente do partido em Minas. O mês entra no seu último terço e Patrus já não é mais o candidato a vice e não se sabe, ainda, quem vai para o palanque como número dois. O candidato percebeu que persistir nesse projeto seria um risco, sobretudo por inviabilizar uma aliança com o ex-presidente Lula. Ambos chegaram à conclusão de que precisam um do outro.
Na outra ponta, o governador Romeu Zema (Novo) se equilibra no apoio ao candidato de seu partido à Presidência, Felipe D’Ávila, mas não recusa o apoio da base bolsonarista. No entanto, como Minas – no falar de Guimarães Rosa – é muitas, já percebeu que, na Região Norte, ele lidera as pesquisas, mas, na questão nacional, o nome mais votado é o de Lula. Ficar em silêncio tem sido a estratégia, mas chegará o momento em que será induzido a se definir. Em política, tem que ter lado.
Minas, no entanto, é apenas mais um dos estados em que a questão nacional tem esbarrado com discussões locais, mas de forte influência no eleitor. No Rio, o deputado Marcelo Freixo, até então o nome mais cotado na esquerda, tem um problema ante o avanço de seu oponente, o atual governador Cláudio Castro (PL) que lidera as pesquisas. Mas a questão central foi o crescimento da candidatura do presidente Jair Bolsonaro. Ele saiu de 31% para 35%, enquanto o ex-presidente Lula caiu de 39% para 35%. De acordo com a pesquisa Genial/Quaest, o presidente está em curva ascendente enquanto petista em queda.
Em São Paulo, além do drama diário do ex-governador João Doria no universo tucano, o palanque está dividido. Lula apoia o ex-prefeito Fernando Haddad, mas Alckmin, seu vice, já avisou que só subirá no palanque do ex-governador Márcio França, seu colega de partido.
Esse somatório de impasses não surpreende num cenário de tantas legendas. A Federação, forma encontrada para colocar várias legendas no mesmo projeto, não seduziu a maioria, sobretudo por significar um “casamento” de quatro anos. Dessa forma, os partidos se sentem à vontade para atuar de acordo com suas conveniências, forçados, em boa parte, pelos candidatos aos legislativos, que, sem a cabeça de chapa, ficam com a maior parcela do fundo partidário.