No início do ano, inconformado com os aumentos frequentes nos preços dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro interveio na Petrobras e trocou o seu presidente. Ele não via justificativas para os reajustes, repercutindo o sentimento do restante da população, que diariamente é surpreendida com novos valores. A despeito de os postos apresentarem os tributos que influenciam nos preços, o inconformismo permanece, sobretudo quando os números são próximos uns dos outros, sem qualquer viés de concorrência.
Quando os preços dos combustíveis eram regulados pelo Governo, as reclamações eram as mesmas sob um foco inverso: pedia-se a livre concorrência para facilitar a queda dos preços. O livre mercado era visto como a solução viável, mas não foi isso o que aconteceu. A disputa que deveria dar ao consumidor a opção mais viável tornou-se peça de ficção. Os combustíveis continuaram sendo majorados como se ainda estivessem sob controle estatal. A tão esperada disputa não apareceu.
No final do ano passado, o Procon, diante de tantos apelos, iniciou uma série de investigações para verificar a coincidência de preços, que poderia soar como cartelização no setor. O resultado está num relatório encaminhado ao Ministério Público, mas não se sabe seu conteúdo. Em entrevista à Rádio Transamérica Juiz de Fora, o vereador Bejani Júnior, que pediu apoio do MP para investigar os postos, pediu acesso aos documentos, a fim de instruir os novos passos do Legislativo.
A coincidência nos preços, que levanta tais suspeitas, é apenas a ponta do problema, pois o ponto central continua sendo o custo. Um país produtor de petróleo, e, no caso de Juiz de Fora, uma cidade tão próxima de refinarias, como a Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, ou a Gabriel Passos, em Betim, não pode ter um combustível acima da faixa de R$ 6, quando se trata de gasolina. O preço do álcool também é injustificável num país recordista na produção de etanol.
Cidades de menor porte têm preços mais acessíveis – embora também acima dos limites razoáveis – do que Juiz de Fora, o que amplifica a necessidade de uma discussão mais assertiva com os donos de postos, para apresentarem suas motivações e planilhas para tais preços.
Os reflexos do preço elevado dos combustíveis não se esgotam na instância do consumidor direto. Há o automático repasse para os custos de outros produtos, por terem forte repercussão no escoamento da produção: mais caros comprometem os fretes. E estes, mais altos, são repassados para o custo final do produto. Dessa forma, o prejuízo é duplo para quem abastece, por ser afetado duas vezes: quando vai ao posto e quando consome produtos majorados por conta dos repasses nos custos.