A celebração nacional pela chegada da vacina teve todas as justificativas, pois foi a ponta de esperança que restava à população brasileira afetada pela pandemia do coronavírus e que põe o Brasil em segundo lugar no número de mortes, mas é necessário olhar à frente. O número de vacinas disponíveis atende, hoje, somente aos profissionais de saúde, que, com toda a justiça, estão recebendo as primeiras doses, mas o país ainda não tem meio de atender ao restante da população ante a falta de ações preventivas que deveriam ter sido adotadas. Pelos números de hoje, até boa parte dos idosos terá que esperar.
Ante a falta de ações preventivas, embora a pandemia seja um fato desde o início do ano passado, o Brasil, agora, fica à mercê da boa vontade dos governos da Índia e da China – que devem priorizar os vizinhos e países mais pobres -, a quem o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e familiares do presidente Jair Bolsonaro, por mais de uma vez, fizeram duras críticas. Ambos são os maiores produtores de insumos para produção da vacina.
A terça-feira foi de discussão pela busca de interlocutores que tivessem trânsito para sensibilizar as autoridades chinesas. O chanceler não tem qualquer espaço e muito menos o próprio presidente da República. O vice-presidente Hamilton Mourão se colocou à disposição, mas dificilmente o Planalto vai lhe dar essa missão.
Ações e consequências são questões que permeiam, sobretudo, as relações internacionais. Nesta quarta-feira, o mundo assiste ao fim de um governo que contribuiu sobremaneira para projetos isolacionistas. O presidente dos EUA, Joe Biden, terá que desfazer uma série de equívocos. No Brasil, a solução tem que ser encontrada pela própria atual gestão, cujo mandato termina só em 2022, sob o risco de, em não o fazendo, deixar o país numa encruzilhada e apartado de várias ações internacionais. O acesso à vacina é uma inquietante mostra, por ter consequências imediatas na população.
Especialista em logística, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tem o desafio de desatar esse nó. Em nota, sua pasta disse que tudo que o ministério podia fazer já foi executado, mas isso só não basta. É preciso encontrar a solução para um problema de consequências imprevistas.
Num momento como este, as demais instâncias também devem abrir mão de suas idiossincrasias e atuar pela causa comum de conseguir o número de vacinas necessário para atender completamente aos mais de 200 milhões de brasileiros à espera de uma solução – e a vacina e a única – para o drama que começou em 2019 e já causou a morte de cerca de 215 mil pessoas.