A pandemia do coronavírus e suas consequências nas diversas instâncias têm provocado consensos e dissensos. A unidade se dá quando se trata da vacinação. Há unanimidade quanto à sua importância e sobre o atraso na imunização que ora se reflete pelo país afora, com falta de doses, obrigando os órgãos públicos a fazerem seleção próxima à Escolha de Sofia: se atendem atingidos por comorbidades, suspendem o atendimento às faixas etárias, valendo o mesmo quando se trata da segunda dose. Não há estoque suficiente para atender a todas as demandas.
Há dissenso, porém, quando se trata das consequências fora da saúde. Em Minas, e, por consequência, em Juiz de Fora, têm sido registradas diversas manifestações envolvendo a volta presencial às aulas, num cenário no qual contras e a favor têm forte argumentos. Os defensores destacam que pais e mães estão adoecendo física e mentalmente por manterem seus filhos isolados em casa. Há reflexos diretos também no emprego, pois nem todos têm meio de adotar uma outra pessoa para fazer o acompanhamento residencial. Ademais, as crianças não conseguem o mesmo rendimento em aulas virtuais.
Por sua vez, os contrários à proposta se escudam, especialmente, na imunização dos professores e dos servidores, que ainda acontece de forma tímida em alguns estados, entre eles, Minas. No seu entendimento, a exposição perante um contingente de pelo menos 40 mil alunos é temerária, embora seja o mesmo argumento de outros setores que estão na lida, como motoristas e trocadores, que só recentemente passaram pelo processo de imunização.
O fundamental da discussão é a pressão que pode jogar sobre as instâncias de poder, que só se movem diante de tais movimentos. Há clara necessidade de se acelerar o processo de vacinação, pois só dessa maneira há garantias concretas de segurança. E aí entra um segundo ponto: a União tem sérias dificuldades em atender estados e municípios por conta de inações pretéritas que agora refletem no processo.
No seu depoimento, ontem, na CPI da Covid, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo garantiu, de mãos postas, que não fez qualquer movimento que contrariasse a aquisição de vacinas e insumos em sua gestão. As evidências, no entanto, foram fornecidas por ele próprio em suas publicações nas redes sociais. Em boa parte do depoimento, passou a responsabilidade para o ex-ministro Eduardo Pazuello, convocado pela CPI para esta quarta-feira.
O momento, porém, deve ser de ação, e não de política. Seja de que lado for, tratar as investigações de olho nas urnas de 2022 é um desserviço ao país e um desrespeito às mais de 435 mil mortes registradas.