A disseminação do coronavírus, que no Brasil ainda vai aumentar pela própria lógica dos acontecimentos e a despeito de todas as providências, é um dado relevante que não permite margem para outras discussões, sobretudo a política. A questão é meramente de saúde pública, suficiente para envolver todos os segmentos, por ser um problema que afeta a todos. Na entrevista coletiva de ontem, o presidente passou parte do tempo respondendo a indagações de cunho político, em decorrências de episódios recentes, mas o fundamental é que, daqui para a frente, o foco seja único na pandemia.
E é por conta desta que a discussão se amplia. Em um ano de eleições municipais, já há manifestações no Congresso em torno de um possível adiamento do pleito. Entre os que colocam essa agenda na pauta, o deputado Júlio Delgado (PSB) observa que a eleição não é um ato que começa e termina em si mesma. Há prazos e ações que a antecedem, como convenções, registros de candidaturas e desincompatibilizações. As convenções, principalmente, envolvem atos públicos de expressiva aglomeração, dependendo do tamanho da legenda. Ademais, o deputado e tantos outros, como a bancada federal do Novo, entendem que o fundo eleitoral teria uma destinação mais adequada se, em vez de ser encaminhado aos partidos, fosse aplicado em ações emergenciais da saúde.
Descartar tais possibilidades seria um contrassenso, mas abraçá-las sem uma ampla avaliação também não é pertinente. O fato é que há uma série de medidas que precisam ser tomadas no decorrer dos dias. Por isso, não há espaço para projetos definitivos. O Governo faz bem ao estabelecer prazos de 48 horas para avaliação de cenários. Tudo muda em tal prazo. A única certeza é o desafio à frente, que exigirá de todos envolvimento responsável, como evitar aglomerações, permanecer em casa o quanto for possível e adotar medidas profiláticas, como lavar mãos e monitorar, especialmente, os idosos e as crianças, considerados idades de risco.
O mundo pós-moderno passa pelo desafio de encontrar vacinas e medicamentos para enfrentar a doença, mas é preciso paciência. Embora haja diferenças abissais de outras épocas, como a gripe espanhola, que matou o eleito presidente Rodrigues Alves, em 1918 – como destaca o jornalista Elio Gaspari -, eleito para o segundo mandato, a imunização demanda tempo. Cientistas de todo o mundo, desta vez, estão na mesma corrida contra o tempo. O que se espera é que seja curto.