A segunda metade do mês de março sinaliza aos partidos e aos candidatos que está chegando a hora de tomarem algum tipo de decisão. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, está consolidado no PSD, mas deve deixar o governo no dia 2 para disputar a sucessão estadual. Por sua vez, no cenário nacional, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem dupla decisão. A primeira envolve sua filiação ao PSD. Um dos principais quadros do PSDB gaúcho, ele tem sido pressionado a continuar no ninho tucano sob a perspectiva de ainda ser o candidato da legenda caso o paulista João Doria não decole. A outra é sua permanência ou não à frente do Estado. Os gaúchos, por tradição, não renovam mandatos de governador, e Leite, se ficar, deve tentar um segundo mandato.
As decisões começam a ser tomadas à medida que o tempo avança, e o eleitor já começa a avaliar a campanha com um olhar mais comprometido. A chamada terceira via está na fase mais crítica, pois ainda não deslanchou. O PSDB mineiro reafirma a intenção de dar prazo a João Doria até o fim deste mês. Ontem, o deputado Aécio Neves voltou a defender a mudança da candidatura, no que é interpretado mais como um gesto pessoal contra seu “inimigo” paulista do que uma estratégia, mas há defensores dessa tese.
Liderando as pesquisas, o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro têm outras preocupações. Enquanto o petista já enquadrou o seu partido e vai confirmar o ex-governador Geraldo Alckmin como seu vice, o presidente da República ainda conversa com o Centrão – que deseja a indicação – para convencê-los de que o general Braga Neto, atual ministro da Defesa, é o quadro mais qualificado para ser o seu número dois. O atual, general Hamilton Mourão, já jogou a toalha, filiou-se ao Republicanos e deve disputar o Senado pelo Rio Grande do Sul.
Num cenário em que as alianças são estratégicas, as conversas ganham corpo. As lideranças partidárias são pragmáticas e não colocam – embora devessem – os programas de governo como prioridade. Enquanto o modelo de coalizão prevalecer, o debate se dá em torno de oportunidades nas estruturas de poder. O próprio Centrão é pródigo nessa estratégia, bastando ver seu histórico: desde o Governo Fernando Henrique está no poder. Seus dirigentes, hoje ao lado do presidente Jair Bolsonaro, já estiveram nos palanques de Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Em meio às discussões, os acordos estaduais são fundamentais. Na edição dessa quinta-feira, o matutino “O Globo” destaca que o candidato pelo Partido dos Trabalhadores está pressionando seu partido a abrir mão de candidaturas a governador – especialmente em Minas – em pelo menos sete estados em troca de palanque. O jogo já está sendo jogado.