As ações em torno da população em situação de rua são sempre complexas, pois não se trata de retirá-la pura e simplesmente dos locais nos quais está instalada para resolver o problema, a despeito de ser essa a visão da opinião pública. O problema é mais profundo, pois há, inclusive, impedimentos legais contra medidas mais bruscas: a rua é de todos, e esses personagens estão incluídos nesse contexto, apesar de o modo como fazem a ocupação causar constrangimentos. Sem abrigo – a maioria voluntariamente -, fazem dos espaços públicos o seu lar, o que implica comportamentos próprios de uma casa, sob o olhar de terceiros.
A Tribuna acompanha a discussão entre setores públicos e privados no encaminhamento do projeto, ora sob impasse ante o olhar distinto dos dois segmentos, mas constata que vários dos embargos são forjados não por desentendimento, mas por falta de entendimento. As partes precisam discutir mais a questão, por conta da própria meta comum de ambos os lados em resolver uma demanda que se estende pelo país afora. As metrópoles têm uma expressiva população de rua, e não há um discurso comum para sua solução.
O fato a ser destacado é que a inação passa para a população a leitura de aumento dos ocupantes das ruas, quando os números não têm a mesma constatação. O problema existe, mas é fundamental o encontro de propostas para a implementação de ações. Fica claro, na matéria publicada na sexta-feira, que esse debate precisa ir adiante, sob o risco de as partes atuarem em compartimentos estanques, tornando a solução mais complexa. De fato, os prazos nas instâncias públicas são prolongados, mas é vital uma resposta mais célere, o que implica um trabalho em que todos estejam envolvidos e, sobretudo, com a mesma visão. Por isso, afinar a sintonia deve ser o próximo passo.