A desistência do apresentador Luciano Huck de disputar as eleições presidenciais, preferindo continuar na TV para ocupar a vaga de Fausto Silva, em fase de despedida da Rede Globo a caminho da Band TV, é a mostra mais recente da desidratação do Centro no processo pré-eleitoral. Antes dele, o ex-ministro Sérgio Moro já tinha sido tirado da lista quando o Supremo Tribunal Federal declarou sua suspeição nas decisões tomadas contra o ex-presidente Lula, esvaziando parte do discurso que pretendia levar para os palanques. Outro que saiu do páreo foi o empresário João Amoêdo, do Novo, por conta de divergências internas.
O estreitamento do Centro tem como uma das últimas opções o PDT de Ciro Gomes e o PSDB, cujo processo de escolha vai ocorrer em novembro, com uma prévia para a qual estão cotados quatro nomes: o governador de São Paulo, João Doria, o do Rio Grande do Sul, Eduardo Salgado, o senador Tasso Jereissatti e o ex-senador Arthur Virgílio.
Ciro tem sido convidado a reduzir a beligerância contra o ex-presidente Lula, a fim de garantir uma eventual aliança em segundo turno, mas ele resiste. Sua estratégia aponta o caminho inverso, isto é, a polarização dentro do campo da esquerda com seu principal representante. Se vai dar certo, só o tempo dirá, mas, dentro do próprio PDT, há quem defenda uma redução no tom. Os defensores dessa mudança não o fazem em homenagem ao petista, mas por conta de alianças regionais que podem ficar comprometidas.
Entre os tucanos, a questão passa, necessariamente, pela prévia. O governador de São Paulo, após sofrer uma derrota no modelo de prévia, pois queria mais peso para os filiados – São Paulo tem o maior número -, adotou o discurso da conciliação, dizendo que prévias unem, em vez de dividir. Também nesse caso, só o tempo dirá.
Ante um cenário de indecisões, quem ganha são os polos. Tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o ex-presidente Lula continuam esticando a corda, embora o petista tenha adotado uma estratégia diferente. O presidente tem reforçado sua ida às ruas em diversas manifestações, como a do fim de semana passado, na motociata em território tucano. O petista faz aparições pontuais, evitando os holofotes e seus desgastes naturais, mas atuando fortemente nos bastidores.
Se o Centro não se ajusta, 2022 será uma réplica de 2018. O eleitor pode seguir o mesmo discurso do último pleito, quando a definição do voto não seu deu por apoio às teses desse ou daquele candidato e sim por conta da rejeição, que acaba sendo o definidor de pleitos em segundo turno.
Como falta mais de um ano para o próximo pleito, ainda é cedo para bater o martelo em torno da lista dos candidatos, mas a campanha já está em curso.