A volta do país às ruas é a prova material de que a população está insatisfeita com a instância política, sobretudo por seu descaso com temas de relevância. A reforma da Previdência é uma necessidade, mas há anos vem sendo protelada por vários governos, por temerem, exatamente, o que ora ocorre: as manifestações. Mas, se tivessem tomado providências, as medidas seriam mais brandas, sem a necessidade da pressão que hoje está sendo feita em cima da classe trabalhadora e das mulheres. A Previdência é um velho problema, e até mesmo muitos dos que ora protestam nos palanques poderiam ter tomado algum tipo de medida.
O presidente Michel Temer, com razão, tem dito que, se nada for feito, o preço será mais caro no futuro, mas erra quando abusa da dose ao exigir uma contribuição de 49 anos e uma equiparação que não se explicita no dia a dia. As mulheres querem igualdade, e é um direito, mas esta deve ser colocada em pauta em condições iguais, e as rotinas de homens e mulheres não são as mesmas.
A classe política, certamente, irá se render aos apelos populares, mas ela deve estar consciente de que atender ao pleito das ruas não significa, necessariamente, colocar a reforma na gaveta e seguir o curso do país como se nada estivesse acontecendo. As muitas reformas que estão em gestação precisam sair do papel, a fim de garantir que a crise que ora penaliza todos não se repita.
É fato que o Parlamento tem meios e direito de fazer emendas. Que as faça, a fim de adotar a razoabilidade que ora falta ao texto original, mas não deve abrir mão das medidas para colocar o país nos trilhos. Caso contrário, a conta será paga, sobretudo, pelos que menos podem, como tem sido até agora, embora o setor produtivo também tenha um pesado ônus, que impede, sobretudo, a retomada do crescimento econômico.