Na entrevista em que anunciou a mudança de onda em pelo menos 70% dos municípios do Estado, após um mês de duras restrições, o governador Romeu Zema destacou que a medida não dava motivos para comemorações, pois a situação ainda é crítica em Minas, embora melhor do que a de todos os demais estados das regiões Sudeste e Sul. Ele reafirmou sua preocupação com a ocupação de leitos de UTI e, principalmente, com as vacinas, cuja distribuição pelo Ministério da Saúde não segue o mesmo ritmo da demanda. Em Juiz de Fora, por exemplo, há incerteza sobre a chegada do novo lote da Coronavac, para atender aos vacinados com a primeira dose no início de abril. A gestão da escassez, como destacou a prefeita Margarida Salomão, durante entrevista à Rádio CBN, tornou-se um desafio. Ela tem viagem a Belo Horizonte, nesta sexta-feira, para tratar desta e de outras questões.
Uma das contribuições para esse cenário de dúvidas é a própria política do Governo federal, que ainda não firmou pé no processo de distribuição, apesar de o novo ministro ter uma visão muito mais moderna do processo. As prefeituras municipais chegaram a articular um consórcio para compra de imunizantes, que acabou sendo bloqueado pelo ministério. Se tivesse tomado essa atitude, mas cumprido o seu papel, não haveria problemas. No entanto bloqueou a compra e não resolveu a situação dos municípios. Como foi dito nesse mesmo espaço, ontem, capitais como Salvador, Rio Branco e Natal tiveram que suspender a aplicação da primeira dose por falta de material.
Por isso, o governador Romeu Zema tem razão ao apontar a necessidade da imunização em massa como única fonte segura contra o flagelo. Mas insistiu no papel das lideranças em instruir a população a manter as medidas de distanciamento e uso permanente de máscara. O novo normal só será realidade quando pelo menos 70% da população tiver tomado as duas doses. Estamos longe disso.
A esse enredo é somada a politização das medidas de combate à pandemia. Na coletiva, o governador criticou aqueles que mais se dedicam à polêmica do que a à soma de esforços, enquanto, Margarida, também ontem, lembrou um adágio comum da política: “CPIs todos sabem como começam, mas ninguém sabe como terminam”, aludindo à Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado para apurar falhas no processo de enfrentamento ao coronavírus. Ela considera necessário investigar o que levou o país a ser um player negativo no cenário internacional, mas sem fazer do debate um palanque, como já se vislumbra em alguns pronunciamentos e como ocorreu no momento em que ainda se discutia a vacinação. Pensar no pleito em detrimento da imunização coletiva é o pior dos mundos, mas há muita gente com essa ideia na cabeça.