Impressionado ao saber que não há uma única vereadora em 20% das câmaras municipais do país, o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia, anunciou a disposição de colocar em votação, já no mês que vem, uma proposta de emenda constitucional estabelecendo um percentual mínimo de mulheres em todas as esferas do Poder Legislativo, isto é, câmaras, assembleias e Congresso, que seria de 10%, passando para 12% até chegar a 16%. Trata-se de uma velha demanda da frente parlamentar de mulheres que tenta, há anos, mudar o perfil dos legislativos, hoje majoritariamente compostos por homens.
Como já foi discutido neste mesmo espaço, embora sejam maioria da população e nos colégios eleitorais, entre eles Juiz de Fora, as mulheres não conseguem a mesma representatividade na hora do voto. A ciência política já apresentou vários estudos, mas, na prática, a resistência permanece. Ela começa dentro dos próprios partidos, que só recentemente foram obrigados a preencher o número de vagas em suas chapas por um determinado percentual de mulheres, mas são raras as legendas que tenham uma mulher no topo de sua cadeia de comando.
O resultado começa a se explicitar, após a formação das chapas, na própria campanha, sobretudo na distribuição de recursos. Como consequência, o número de eleitas é mínimo. Há, também, as que se propõem ao jogo sujo de se apresentarem como laranjas, ou seja, apenas para cumprir o que diz a lei sobre o percentual de candidatos, saindo de cena durante a campanha. Foram várias as que zeraram nas urnas de 2018. Chama a atenção o fato de muitas delas, de novo, estarem disputando, agora, cargos nas câmaras municipais.
Mudar o jogo por meio de cotas é apenas a fase inicial de um processo que precisa ser amplificado pela própria conscientização. As mulheres estão na linha de frente em várias mobilizações, mas na hora do voto há um inexplicável refluxo. Há a discriminação, mas também é necessário que esses mesmos grupos se articulem para ampliar sua representação.
Em Juiz de Fora, a despeito do grau de politização da cidade, a Câmara não passou de dois o número de mulheres num mesmo mandato. A situação soa estranha que até merece registro: na antessala do Palácio Barbosa Lima, ao lado do Plenário, há uma galeria dedicada às mulheres que obtiveram o mandato. A lista começa com Vera Faria de Medeiros, eleita em 1966, e fecha no atual mandato, que começou com duas representantes, mas só tem uma – Ana Rossignoli – ante a eleição de Sheila Oliveira para a Assembleia. Durante todos esses anos, somente 11 mulheres foram eleitas, mas nenhuma delas chegou à presidência da Casa.