Duas histórias foram contadas na última segunda-feira, em Brasília: a primeira, revestida de pompa e circunstância mas com forte viés de austeridade, foi a posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal. Mineira, de hábitos simples e rígida nos afazeres, inverteu a ordem do discurso ao cumprimentar primeiro o cidadão brasileiro, embora tivesse ao lado o presidente da República e dois ex-presidentes. A cerimônia foi marcada por duros discursos contra a corrupção, especialmente do decano Celso de Melo, que condenou o que chamou de “marginais da República”, sem citar nomes.
Na casa ao lado, os deputados encerraram a história do deputado Eduardo Cunha, o poderoso presidente da instituição que acelerou o processo de impeachment da ex-presidente Dilma e que viu na sua degola uma retaliação por suas atitudes. Cunha fez um discurso emocionado, colocando-se como vítima, especialmente do PT, mas não convenceu os pares. Por 450 votos a favor, dez contra e nove abstenções, ele foi mandado para casa sem os direitos de ser votado pelos próximos oito anos.
A lição a ser tirada destes dois episódios só poderá ser aferida com o tempo, mas é possível depreender que o país, a despeito dos trancos, está indo adiante, pois tirou um prócer do sistema de circulação e empossou uma ministra despojada de tais vícios. Cármen Lúcia tem os pés no chão e um forte espírito republicano, disposta, até, a discutir o reajuste do Judiciário, que todos sabem ser um problema para a economia ante o efeito cascata que provoca. Seu antecessor, Ricardo Lewandowski, de forte postura corporativista, levou a matéria adiante; a sucessora pretende discutir.
Ainda há questões pendentes, mas nas três instâncias de poder há assuntos relevantes para serem colocados em pauta: no Executivo, a reforma econômica, que implica forte negociação; no Legislativo, a reforma política, que não pode ficar apenas na questão eleitoral, e, no Judiciário, que carece de se modernizar, para atender aos que menos podem, hoje com fome de justiça.