É crível discordar dos métodos adotados pelos operadores da Lava Jato, que em muitos momentos resvalaram nos limites da legalidade, e do tom imperial de alguns membros, que se investiram do papel de justiceiros, mas não há como negar que a operação tem crédito, bastando avaliar os seus resultados. Muitos personagens, que se consideravam impunes ou acima da lei, foram levados às barras dos tribunais para prestar contas. Alguns já estão presos por misturarem os interesses públicos com o privado, e outro grupo ainda está em investigação.
Na tarde de quarta-feira, a Justiça Federal do Rio de Janeiro homologou o acordo de colaboração premiada do doleiro Dario Messer, considerado o principal intermediário na evasão de divisas do país. Conhecido como doleiro dos doleiros, ele vai cumprir pena de 18 anos e nove meses, iniciando pelo regime fechado, depois passando por progressões, mas terá que devolver aos cofres públicos a modesta quantia de R$ 1 bilhão.
Quando os anões do orçamento foram presos, ou até mesmo quando o mensalão foi desvendado, não se falavam de cifras tão altas. Os brasileiros só viram o tamanho da corrupção quando os meandros da Petrobras foram apresentados à população. Só se falava de milhão para aqui, milhão para lá. Agora, com Messer, e parodiando o jogador Bruno Henrique, a corrupção subiu de patamar. Segundo o Ministério Público, tal cifra corresponde a 99% de seu patrimônio, que envolve imóveis, obras de arte e um considerável investimento no Paraguai ligado a atividades agropecuárias e imobiliárias. Os parentes do doleiro já haviam devolvido R$ 370 milhões em outro contrato com o Ministério Público Federal.
Messer é um arquivo vivo que deve mostrar a cadeia de parceiros na dilapidação do patrimônio público, pois só assim se justifica a sua delação. Com isso, mesmo com todos os entraves para o prosseguimento das investigações, muitos desses personagens vão continuar olhando pela janela às 6h para ver se os agentes estão ou não em suas portas.
Mas a Lava Jato não se encerra em si mesma. Há outras investigações em curso, e o ponto central deve ser a criação de mecanismos nos quais a probidade seja uma exigência primária para agentes públicos. Se há o corruptor é porque, do outro lado, alguém aceita a negociação, tornando-se o tal polo passivo. Há legislação nesse sentido – pois o que não faltam no país são leis. A questão é a criação de estruturas para cobrar a sua execução.