A separação dos pleitos nacional e municipal, levando o eleitor às urnas de dois em dois anos, não significa, necessariamente, que apenas nesse período as discussões entram em campo, pois não é o que está sendo visto neste início de ano, quando os gestores eleitos no último pleito estão apenas no meio do mandato. As discussões para 2022 estão em pleno curso tanto interna quanto externamente. Para dentro, os pré-candidatos sinalizam com articulações, como as que ora marcam a rotina do PSDB, no embate entre os governadores João Doria, de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Ambos estão em busca da unção tucana para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro.
Para fora, o mote tem sido a vacina de combate ao coronavírus. Bolsonaro e Doria têm mantido um aberto embate voltado para o eleitor, este, no meio desse fogo cruzado sem saber quando será imunizado, já que o número de doses é insuficiente para a demanda. Tal entrevero não significa que a sucessão envolve apenas os dois personagens. Por estratégia, Doria e Bolsonaro apostam na polarização, mas se, à direita, o presidente é o nome consolidado, na outra margem, ainda há outros atores.
O ex-presidente Lula ainda tem esperanças de voltar à disputa, mas, se isso não for legalmente possível, já indicou como o candidato ideal do PT o nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O gesto, aliás, não é consenso, pois no âmbito interno há os que defendem, primeiro, uma conversa com eventuais aliados, a começar por Guilherme Boulos, do PSOL, e Ciro Gomes, do PDT.
O governador paulista aposta numa polarização ao centro, o que é improvável no atual cenário. O Centrão, atualmente na trincheira do Governo, é suscetível a conversas, bastando ver a sua trajetória: está no poder desde Fernando Collor, quando foi restabelecido o pleito direto no país, e não se importou em apoiar presidentes de direita, de esquerda ou de centro.
Em debate com tamanha antecedência, o resultado é quase sempre problemático, pois a agenda não caminha necessariamente de acordo com os interesses do país ou com base no discurso levado aos palanques. Prevalece o jogo de conveniências, que já levou governantes a mudar totalmente o seu programa de governo para garantir o apoio. Foi assim em todos os mandatos.
Pelas apostas feitas até agora, a possibilidade de mudanças é mínima, indicando que, durante todo esse período, a despeito de uma extensa pauta de medidas que precisam ser tomadas, as ações serão pautadas na repercussão que podem ter na opinião pública.