Ainda dependendo de acordos que só serão forjados em março, quando da abertura da janela eleitoral, os partidos, mesmo timidamente, já começam a apresentar propostas especialmente para a economia. O PT tem sido o mais contundente, sobretudo na defesa de mudanças na reforma trabalhista, aprovada na gestão Michel Temer, e na autonomia do Banco Central. Os defensores da proposta entendem ser necessário antecipar o debate para não haver surpresas em meio à campanha. Os críticos destacam ser uma proposta mais para dentro, a fim de mobilizar a militância, do que para as ruas.
Embora seja cedo, os pré-candidatos devem colocar as cartas à mesa, a fim de garantir, antes mesmo de convencer a opinião pública, a elaboração de alianças com propostas afins. Ao defender mudanças trabalhistas, por exemplo, o PT cria um impasse com o possível vice, Geraldo Alckmin, que pensa de forma diversa. Em 2002, quando ambos foram para o segundo turno das eleições presidenciais, a economia foi a pedra de toque das discussões: Alckmin defendendo a privatização, iniciada na gestão Fernando Henrique, e o PT indo no caminho inverso.
O que se vê é um silêncio em torno de temas importantes para o país, principalmente agora, quando a inflação chega à casa dos dois dígitos. A economia é fundamental para o sistema democrático, o que eleva a responsabilidade dos candidatos à gestão federal na análise do tema. Colocar os programas de Governo na pauta é quase uma necessidade, para evitar, principalmente, o jogo lateral do período eleitoral, pelo qual temas críticos ficam fora das discussões.
E, quando isso acontece, a campanha se volta para questões menos relevantes ou para a agenda de costumes. Esta atrai a atenção, mas não deveria ser a principal para um programa de Governo. O país tem uma série de desafios, e, quando as discussões morais ficam à frente, o eleitor, pela emoção, é induzido a apoiar projetos apartados de suas reais necessidades.
São muitos os desafios pela frente. As instâncias de saúde, educação e segurança devem permanecer no topo de agenda, mas o meio ambiente subiu de patamar após as muitas conferências que apontam para a sua importância. Neste mesmo espaço, na edição de ontem, foi destacado o “ponto de não retorno”, que deve ser uma preocupação dos candidatos. Se o tema continuar fora das prioridades, haverá um momento em que qualquer medida já não terá os efeitos esperados, capazes de salvar o planeta.