Quem tem acompanhado as sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito, instalada no Senado para apurar as ações, ou omissões, do Governo no combate à Covid, tem percebido o desempenho particular de alguns parlamentares. Pelo lado da oposição ao Planalto, formando a maioria, o presidente Omar Aziz (PSD) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL) têm sido protagonistas, enquanto o senador Marcos Rogério (DEM-RO) tornou-se o principal representante da base governista, com discursos duros em determinados momentos e questionando os pares frequentemente, demonstrando sua afinidade com o Planalto.
CPIs têm esse viés: sempre surgem protagonistas que acabam ganhando notoriedade por conta de seu desempenho, mas um dado particular tem chamado a atenção, quando se trata do comportamento de alguns parlamentares, sobretudo os que mais têm se destacado nas discussões. Mesmo sabendo da visibilidade nacional, por conta das partes envolvidas, seus pronunciamentos são mais voltados para as próprias bolhas do que para o público em geral, replicando, aliás, um modelo próprio das redes sociais.
Falar para os próprios grupos é uma estratégia de poder que tem dado certo, a despeito de mazelas, como fake news, que também transitam por esses canais. Os políticos, especialmente, ao falar para os próprios grupos (ou bolhas), deixam para os seguidores a missão de amplificar seu discurso.
Os senadores Omar Aziz e Eduardo Braga (MDB) – ambos do Amazonas – não escondem a pretensão de apear o atual governador, Wilson Lima (PSC), não só por conta da crise que afeta o estado, notadamente a capital Manaus, mas também pelo próprio interesse. Ambos são claramente candidatos em 2022. A decisão da ministra Rosa Weber, do STF, de dar ao governador o direito de não comparecer à CPI, embora em caráter liminar, adiou um embate que, se não ocorrer agora no Senado, vai acontecer nos palanques do ano que vem.
Como um terço do Senado terá, necessariamente, que ir às urnas no ano que vem, outros personagens da CPI também vão aproveitar a visibilidade para se apresentar aos eleitores. É do jogo, mas há problemas, sobretudo no rumo das investigações. Nos questionamentos, há um claro viés político que, em alguns momentos, se distancia do objetivo central da CPI em torno da tragédia que já matou quase 500 mil brasileiros.
Já na segunda parte das apurações, o relator, Renan Calheiros, diz já ter material suficiente para fazer indiciamentos em torno de responsabilidades pela crise, mas ainda há pontos que precisam ser esclarecidos e outros que devem ser reformulados. CPIs, todos sabem como começam, mas seu desfecho, na maioria das vezes, é incerto.