Em tempos de tecnologia avançada, as investigações mais eficientes se baseiam em dados, com levantamento de documentos e provas materiais. A CPI da Covid, instalada no Senado Federal, adota o velho modelo de longos depoimentos, nos quais o viés midiático supera a busca por evidências. Com a transmissão em tempo real, boa parte dos senadores está mais preocupada com a audiência do que com as provas, gerando com isso situações constrangedoras, com bate-bocas intermináveis que não levam a lugar algum.
Além disso, há um forte componente político tanto na maioria quanto na minoria em virtude das eleições de 2022. Os pronunciamentos focam na desconstrução do Governo – como denuncia a base do presidente Bolsonaro – ou na defesa do indefensável, como destacam os opositores, tendo como base os mais de 500 mil mortos pelo coronavírus. As urnas têm sido referência para o desempenho de parlamentares interessados na reeleição ou na sucessão em seus estados.
Trabalhar com dados seria mais eficiente até mesmo para confrontar os depoentes, que usam e abusam de suas prerrogativas certos de que muitos parlamentares fazem questionamentos sem qualquer acesso a informações objetivas sobre o que pode ter acontecido. A consequência são depoimentos vazios, distantes da realidade, eivados por estratégias escapistas, que levam a situações como as de quarta-feira passada, quando o presidente da CPI, Omar Aziz, decretou a prisão do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. Errou na mão, pois outros personagens adotaram a mesma estratégia, e ele não tomou atitude semelhante.
Provas documentais foram as armas eficientes na operação Lava Jato. Quando chegavam aos depoentes, os promotores já tinham em mãos farto material para incriminá-los ou levá-los a apontar responsáveis por atos ilícitos. Lá também houve erros, sobretudo quando os investigadores ultrapassaram limites éticos e legais, levando à anulação de decisões. A CPI deveria ter tirado lições daquele processo: adotar provas materiais como melhor base para suas investigações e, ao mesmo tempo, fugir do protagonismo midiático, que produz resultados imediatos, mas derrotas no longo prazo.
O desgaste de quarta-feira e a reação dos militares, por conta do discurso além da conta do senador Omar Aziz, devem servir de referência para os próximos passos, sob o risco de todo o projeto ir por água abaixo sem apurar responsabilidades. Esse é o ônus de comissões parlamentares de inquérito. Sabe-se como começam, mas seu desfecho é imprevisível, dependendo de como elas são implementadas.