Com cerca de dez meses de antecedência, a Prefeitura anunciou o local e os dias de realização do Carnaval de 2023, com mudanças importantes que podem repercutir no próprio evento. Os desfiles continuam na Avenida Brasil, mas o trajeto é outro. O início está programado para a ponte do Ladeira e a dispersão já na Rua Benjamin Constant. Ademais – veja matéria na página 12 -, o Carnaval será na mesma data dos eventos de Rio de Janeiro e São Paulo, dando fim à antecipação iniciada na gestão Bruno Siqueira e acompanhada no mandato Antônio Almas. Haverá, ainda, o desfile das campeãs, no dia 24 de fevereiro, uma sexta-feira.
Há tempos, o Carnaval tem sido uma pauta polêmica na cidade, sobretudo após o fim dos desfiles oficiais e ou as restrições a ele impostas. As propostas de otimização, com ênfase no carnaval de rua, como ocorre em cidades como Salvador, foram um avanço, mas é necessário dar espaço para outros segmentos, a começar pelas próprias Escolas de Samba, que têm uma tradição a ser mantida. O Carnaval de Juiz de Fora – título imputado pela imprensa nacional – já foi um dos melhores do país.
Mais ainda, os desfiles das Escolas de Samba de terça-feira eram marcados por reforços do Rio de Janeiro. Alguns exemplos: o Partido Alto, com as mesmas cores da Mangueira, ganhava foliões da escola de Jamelão. Ocorria o mesmo com Turunas e Feliz Lembrança, com apoio da Portela, e a Juventude Imperial, cuja bateria campeã ficava melhor ainda com o grupo vindo da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Os tempos, é fato, eram outros e as apresentações na Avenida Rio Branco – antecedidas em outras épocas por batalhas de confete nas Ruas Halfeld e Marechal Deodoro – eram memoráveis. O Centro da cidade, ante o novo fluxo de veículos, tornou-se inviável e a Avenida se despediu do Samba que se mudou para a Avenida Getúlio Vargas, para a Francisco Bernardino e, finalmente, para a Avenida Brasil.
O Grupo de Trabalho, responsável pelas mudanças, avaliou todos os cenários, cabendo, agora, às escolas o papel de se prepararem para o grande evento. Ao mesmo tempo que saíram da avenida, os desfiles perderam qualidade, ora por questões econômicas, ora por discussões em torno de seu financiamento. O Poder Público não tem como financiar tais projetos ante a rigidez das legislações, mas também pela importância de as próprias entidades se autofinanciarem. Não é de hoje, por exemplo, que se discute o uso permanente das quadras para obtenção de receita, mas isso não tem sido uma tônica voltada necessariamente para os cofres das entidades.
Há tempo suficiente para essa nova modelagem, sobretudo ante um cenário sem a pandemia que silenciou tambores e tamborins por dois longos anos. Os desfiles de abril foram uma mostra do que pode ocorrer na data e momento certos no ano que vem, desde que todos estejam aptos para acolher, de novo, os festejos de Momo com a esperada eficiência. Ademais, com a retomada do calendário, a Banda Daki – infelizmente sem sua principal liderança, Zé Kodak – voltará a abrir o Carnaval, na data e tempos certos, o que não acontecia desde o fim dos desfiles.