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Palanque aberto

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O discurso de cerca de uma hora e meia feito pelo ex-presidente Lula apontou para o início da campanha eleitoral de 2022 e indicou, ainda, que a pandemia do coronavírus será o tema recorrente nos palanques. No seu pronunciamento, antes da entrevista coletiva, o ex-presidente também não poupou críticas à imprensa, por esta, segundo ele, ter feito um pacto com os procuradores da Lava Jato. Nesse aspecto, repetiu literalmente a fala do ministro Gilmar Mendes, durante sessão da Segunda Turma do STF, na tarde de terça-feira. Em outro momento, destacou, porém, que a liberdade de imprensa é um bem fundamental para a democracia. O ex-presidente e o presidente Jair Bolsonaro têm uma visão comum sobre os veículos de comunicação, pois consideram a mídia um inimigo articulado para desconstruir seus mandatos.

Era óbvio, porém, que o alvo principal seria o atual Governo, sobretudo em torno da pandemia, mas também por ser o alvo ideal para se estabelecer um cenário de polarização. O “nós contra eles” agrada os dois lados, que, agora, devem medir forças para ver quem capitaliza mais apoio. Talvez por isso, o governador de São Paulo, João Doria, em entrevista à Folha de S. Paulo, tenha dito que a volta de Lula muda o jogo sucessório e muda a geografia eleitoral. “É uma situação completamente diferente do que a que tínhamos até agora”, destacou.

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Doria tem razão ao apontar, num primeiro momento, o comprometimento dos projetos de centro, mas é necessário considerar que há outros fatores que vão pesar no jogo político. Ainda há um claro sentimento antipetista na sociedade brasileira, da mesma forma que cresce o antibolsonarismo, em decorrência, sobretudo, da crise sanitária e da falta de perspectivas no seu enfrentamento.

O centro ainda não está morto, mas ele precisa se reconstruir em torno de uma candidatura sólida, que possa representar um antagonismo aos dois projetos de extrema esquerda e extrema direita. Essa construção, no entanto, não é fácil, principalmente pelo perfil de vários dos atuais interessados: mais separam do que agregam.

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A despeito de todos esses aspectos, o mais sensato seria colocar a sucessão em banho-maria por não ser o momento mais adequado. O recorde diário do número de mortes não é um dado aleatório a ser colocado em segundo plano, principalmente num momento de incerteza em torno das vacinas. Não há garantias de lotes suficientes para atender o maior número de pessoas num momento como este e no qual ainda há aqueles que consideram ser mera ficção o que ora ocorre nos hospitais. O presidente Jair Bolsonaro anunciou vacinas e recursos na tarde de ontem. Espera-se que seja um novo tempo e não uma mera reação às críticas de Lula, seu principal opositor.

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