O mercado é bipolar. Depois de as bolsas terem se derretido na segunda-feira, com perdas imensuráveis pelo mundo afora, inclusive no Brasil, acordaram na terça-feira com forte alta, indicando que a preocupação levou os investidores a fazerem head, especialmente em dólar, abrindo mão de ações que despencaram, como foi o caso da Petrobras. Tudo isso por conta do impasse entre os russos e a Arábia Saudita, que não chegaram ainda a um acordo sobre o valor do barril de petróleo. Some-se a isso o avanço do novo coronavírus, que levou a Itália a se fechar para o mundo numa quarentena que começou também na segunda-feira.
Com conexões em tempo real, o efeito borboleta tornou-se uma realidade. Um episódio em qualquer parte do planeta é capaz de causar abalos globais. Tal fenômeno é apenas a repetição de tantos outros ocorridos em anos recentes. A Opep, matriz do impasse petrolífero, já tinha se apresentado ao mundo em 1973, quando definiu os preços que abalaram economias. Sem o prestígio de antes, vê, agora, o enfrentamento de dois países sem data para terminar.
Em cenários como esse, perde menos quem se preparou para enfrentar crises de tais dimensões. O Brasil tem pela frente pelo menos duas reformas importantes que não podem mais ser adiadas. A reforma administrativa e a reforma tributária têm que entrar na agenda do Congresso o quanto antes, a fim de garantir estabilidade nessa fase de transição. Mas é necessário, como destacou o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia, que o texto chegue ao Legislativo. Não basta o Governo cobrar aprovação de um documento que sequer foi entregue aos parlamentares.
A reforma administrativa é uma demanda antiga, que ficou à margem em vários governos, que se recusaram a colocá-la em pauta a despeito de sua importância. As estruturas públicas estão saturadas e com forte tendência à ineficiência. É bem verdade que o problema não se esgota na instância federal. Estados e municípios também estão com seus quadros inchados sem que isso atenda às demandas da sociedade. Ao contrário, como boa parte desses postos é formada por indicações políticas, a qualidade nem sempre se reflete na execução dos serviços. Mais do que isso, o excessivo número de comissionados reflete até mesmo na Previdência, pois são personagens que não contribuem para o seu caixa, ficando o ônus apenas para os concursados. O resultado está nas contas que não fecham ao fim do mês.
Por sua vez, a reforma tributária já passou por diversos palanques, mas ainda não se chegou ao patamar ideal, capaz de garantir competitividade ao mercado nacional e eficiência na sua gestão. O setor produtivo fica sem capacidade de investimento quando o volume de tributos encolhe suas margens. Ao final, a conta fica para o consumidor, que enfrenta preços que acabam se refletindo com a queda do consumo. E aí todos perdem.