O jantar de segunda-feira no ninho tucano, no qual o governador de São Paulo, João Doria, abriu várias frentes de discussão antes do prato principal, mostra a quantas anda a incerteza dos políticos de centro, especialmente de PSDB, MDB e DEM, que ainda não sabem como se comportarão nas eleições de 2022. Entre uma garfada e outra, Doria disse que, antes de ter seu nome lançado à Presidência da República, gostaria de assumir o comando do partido, na vaga do deputado Bruno Araújo, que por sinal estava à mesa e se surpreendeu com a proposta. Para apimentar ainda mais o prato, o governador pediu a cabeça do deputado Aécio Neves, indicando que não há lugar para os dois no mesmo partido.
Para sua surpresa, foi lhe dito pelo líder do partido na Câmara, deputado Rodrigo de Castro, que ele pecava nas duas questões: ser candidato antes de uma discussão com os demais militantes e tirar Aécio, que está mergulhado, mas ativo nos bastidores. Ao seu modo franco, Rodrigo teria dito ao anfitrião que ele não tem a unanimidade do partido e que Aécio não sai.
Desse indigesto evento depreende-se que, salvo o presidente Jair Bolsonaro, que tem a direita e parte da centro-direita sob seu controle, o que faz dele um nome praticamente garantido num eventual segundo turno, os demais segmentos ainda estão tateando nas definições. No campo da esquerda, o ex-presidente Lula disse que, se não for ele, o nome do PT será do ex-prefeito Fernando Haddad. E aí já há um problema, pois confirmou a crítica dos parceiros quando dizem que o PT só faz aliança na qual ele está na cabeça de chapa. O ex-ministro Ciro Gomes está no jogo, valendo o mesmo para Guilherme Boulos, do PSOL.
O centro é a grande questão, pois tem quatro pré-candidatos e, ao mesmo tempo, nenhum, pois os pretendentes ainda não têm garantias de indicação. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ora no DEM, ainda não sabe se vai continuar ou não na legenda. O apresentador Luciano Huck, que desde 2018 tem sido um possível candidato, ainda não se definiu. Ele, agora, deve estar vivendo um outro dilema: a política ou a vaga de Fausto Silva, nos domingos da TV Globo, o horário mais nobre da televisão aberta no país.
Os outros dois são os tucanos João Doria e Eduardo Leite, governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul, respectivamente. Doria teria queimado etapas ao se antecipar enquanto o gaúcho diz que topa, mas não age. Nesta quinta-feira, salvo mudanças de agenda, deve receber a bancada do PSDB na Câmara para tratar do assunto. O resultado pode ser definidor de várias ações no ninho tucano.