As chuvas que afetam especialmente a Região Sudeste, depois de fortes estragos no Sul da Bahia, são a face perversa do ciclo das águas, que só vai terminar em março, para fechar o verão. A natureza segue o seu curso e, de ano em ano, mostra seus efeitos. Desde o início de 2022 os números são trágicos. Além das dez vítimas da tragédia de Capitólio, no Sudoeste de Minas, há duas vítimas fatais em outras regiões afetadas pela chuva intermitente que começou ainda na virada do ano.
Os alagamentos e os deslizamentos em encostas, em princípio, são fatos previsíveis, já que ocorrem sazonalmente, mas nem assim boa parte das cidades está preparada para tais ocorrências. Os rios, que anualmente ficam assoreados, saem do leito e afligem populações inteiras, e não necessariamente apenas as ribeirinhas. A semana começou com vários municípios alagados, especialmente os que são cortados pelos rios Muriaé e Pomba, como as cidades de Itaperuna e Bom Jesus, no Norte do Rio. Em Minas, 138 cidades estão em situação de emergência.
A cultura de esperar os fatos, em vez de se investir na prevenção, tem um custo alto no país. A tragédia de Capitólio, por exemplo, foi anunciada há dez anos, mas nada foi feito. Com dez mortes, ninguém assume a responsabilidade, preferindo atribuir a consequência à própria natureza.
No fim de semana, usuários da BR-040, nas proximidades de Belo Horizonte, tiveram que interromper a viagem por conta de um dique de uma mineradora que não conteve o excesso de água e jogou seus dejetos pela rodovia, formando um assustador rio de lama. Voltando no tempo, as tragédias de Mariana e Brumadinho começaram da mesma forma, mas nem por isso as providências foram devidamente tomadas. Quando duas centenas de pessoas morreram em Brumadinho – em janeiro de 2019 – foram anunciadas iniciativas para resolver o problema das barragens. Tudo ficou no discurso, e o que aconteceu no sábado foi um ensaio do que pode vir pela frente.
Como todas as metrópoles, Juiz de Fora tem os seus problemas, a começar por alagamentos frequentes na região de Santa Luzia e parte da Zona Norte, especialmente nos bairros Cerâmica e Industrial. Só este ano foi instalado um comitê para discutir soluções para o córrego de Santa Luzia, embora os problemas venham ocorrendo desde a sua canalização, que em princípio seria completa e depois ficou no meio do caminho.
As encostas de Juiz de Fora, especialmente as mais críticas, tiveram intervenções que deram resultados, mas, com a dinâmica das cidades, outras áreas foram aparecendo, muitas delas em razão da ocupação desordenada de suas encostas. São, pois, demandas permanentes, que devem entrar na agenda dos governos a todo o tempo, mesmo se sabendo que a conta chega, especialmente, no período das águas.