A vinda do ex-presidente Lula a Minas Gerais, o primeiro estado visitado após o lançamento oficial de sua campanha, e o já programado retorno do presidente Bolsonaro por mais duas vezes, embora não haja, ainda, definição de quais cidades pretende fazer campanha, são reveladores do papel dos eleitores mineiros no processo sucessório nacional. Desde a redemocratização, quem venceu em Minas ganhou o pleito. O então senador Aécio Neves, que foi governador por dois mandatos, foi derrotado em casa pela candidata Dilma Rousseff e perdeu a Presidência. No caso mais recente, Bolsonaro venceu Fernando Haddad e foi eleito.
O estado concentra uma série de questões que fazem dele um caldeirão de experiências, sobretudo por abrigar um diversificado perfil eleitoral. Tem o seu interior, chamado por Tancredo Neves como bolsões podres, mas é base de uma população típica do Sudeste, especialmente nas suas metrópoles, nas quais o grau de politização fica acima da média nacional. Juiz de Fora é uma delas, o que justifica ter sido colocada na agenda de quase todos os candidatos ao curso desse mesmo período.
O jogo só está começando, mas a mobilização dos candidatos já exige um estágio avançado nas conversações, ora travado por questões paroquiais. Os dois candidatos mais cotados na disputa estadual ainda não bateram o martelo em torno de uma candidatura presidencial. Eleito com respaldo dos bolsonaristas, em 2018, o governador Romeu Zema, do Novo, não abre o jogo, preferindo utilizar uma saída alternativa, destacando o candidato de seu partido, o cientista político Felipe d’Ávila, sem qualquer chance de ganhar. Dessa forma, considera não ficar mal com o presidente Bolsonaro, sem, no entanto, fechar as portas para o eleitor lulista. Já o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil anda às voltas com o seu candidato ao Senado, Alexandre Silveira, que não abre mão da reeleição pelo PSD e a ainda ensaia assumir a liderança no Governo no Senado. O PT topa apoiar Kalil, mas insiste no nome do deputado Reginaldo Lopes na disputa pelo Senado.
Esses impasses regionais têm forte influência na disputa majoritária, pois a formação dos palanques é estratégica. Quando não há acordo, surgem as improvisações. Na Bahia, como acontece com Zema em Minas, o candidato ACM Neto deve se manter neutro, pois os candidatos ao Senado estão divididos e ele precisa de ambos. O Nordeste é o foco dos principais embates. No Ceará, o ex-senador Eunício de Oliveira tem trocado duras palavras com a família Gomes, liderada pelos irmãos Ciro e Cid, mas a briga de ‘cachorro grande’ ocorre mesmo em Alagoas, onde o senador Renan Calheiros, que apoia Lula, trava um duro embate com o presidente da Câmara, Arthur Lira, apoiador do presidente Bolsonaro. O que ambos têm falado um do outro é impublicável em alguns momentos.
A formatação das federações, cujo prazo final é 31 de maio, pode adiantar algumas negociações, mas ainda está longe da pacificação dos palanques, o que só deve ocorrer, de fato, com as convenções, quando todos, como numa comunidade imaginada, consideram estar atuando sob o mesmo discurso.