Num cenário globalizado, o que ocorre em determinada região do mundo – como no efeito borboleta – tem repercussões imediatas em outras partes. Não surpreendem, pois, as implicações do embate entre russos e ucranianos pelo mundo afora, como foi apontado pela Tribuna, na edição dessa quarta-feira, quando destacou que a “guerra já afeta preços de alimentos ao consumidor”. De acordo com a matéria, com alta no valor do trigo, produtores de pães da cidade sentem os reflexos. O texto alerta, ainda, que outros produtos também devem ser impactados, como derivados do milho. O agronegócio, certamente, terá problemas com a escassez de fertilizantes.
Sem uma ação militar direta no conflito, o bloqueio econômico determinado pela Otan e pelos Estados Unidos tornou-se a arma mais eficaz, mas as consequências são de mão dupla. O que ora já dá os primeiros sinais pode se agravar se não houver uma solução pacífica para a guerra. A interdependência global, que foi uma saída, é também a fonte de um impasse de grande significância, pois os resultados causam implicações internas em todos os países. E, assim, as demais relações também serão afetadas.
Por ironia do destino, o mundo, quando dá os primeiros passos para rebaixar a pandemia do coronavírus para endemia, considerando sua existência como um dado real, mas sem as consequências que causaram a morte de milhões de pessoas, surge um novo problema cujas repercussões também são globais.
Como não se sabe até quando vai o conflito, é preciso se preparar para novos tempos na economia, sobretudo nas áreas que dependem de importação ou exportação. Em suma, quase tudo. O pãozinho é apenas a ponta da questão, sobretudo se o bloqueio aumentar nos próximos dias.
Em momentos como esses, as lideranças devem estar aptas a tomar providências, a fim de garantir o mínimo de danos. O petróleo é uma das principais commodities, e seu preço reflete num expressivo volume de derivados. No Brasil, antes mesmo de Vladmir Putin dar os primeiros sinais de invasão, já se avaliava o que fazer para baixar o preço dos combustíveis. Agora, a situação se torna mais urgente, pois qualquer novo aumento terá repercussões graves na economia.
E a conta a ser paga amplia ainda mais a situação daqueles que já estavam na faixa do arrocho, como os segmentos que dependem diretamente do transporte, sobretudo os usuários do sistema público, que vão precisar, mais do que nunca, de ação oficial para manter o preço dos combustíveis estabilizado. Caso contrário, a perda será em todos os níveis.