A boa notícia é que a Mercedes-Benz, durante audiência pública na Câmara Municipal, garantiu sua permanência em Juiz de Fora. Quando fez o requerimento para a reunião, o presidente do Legislativo, Juraci Scheffer, tinha como base informes, não confirmados, de a montadora buscar novos ares, como fez a Ford, em São Paulo. Os dirigentes destacaram que a cidade tem papel estratégico em seu projeto, não justificando, pois, qualquer tipo de especulação.
A permanência, porém, não pode ser garantia de longo prazo num cenário em que o setor produtivo passa por incertezas econômicas. Quando iniciou suas operações em Juiz de Fora, em 1999, a montadora tinha como proposta a fabricação do Classe A, uma versão de carro de luxo de acesso popular. Custava em torno de US$ 20 mil num momento em que havia uma paridade 1/1 com o Real. Pouco tempo depois, a moeda brasileira foi desvalorizada, e o veículo ficou impraticável para os segmentos que estavam em seu alvo.
Nesses 20 anos, a plataforma da montadora sofreu várias alterações, estando, agora, na fabricação de cabines de caminhões. Os dirigentes anteciparam que há a pretensão de aumentar a produção. Que assim seja, mas a discussão não se esgota no caso da empresa alemã. A cidade precisa discutir sua política industrial se tiver a pretensão de acolher novos projetos, ou para a região. Como foi dito na reunião, a Zona da Mata é precária em infraestrutura, e seus modais de mobilidade estão comprometidos. Há cerca de três anos, a fábrica de massas M. Dias Branco, que iria se instalar na Zona da Norte de Juiz de Fora, antes mesmo de desistir do projeto, tinha dificuldades em ter uma via de acesso que deveria ser construída pelo Governo do estado. A relutância na obra e a oportunidade de novos negócios, como a compra da Piraquê, melaram o negócio.
Cidade próxima à divisa com o Rio de Janeiro, Juiz de Fora, há tempos, tem enfrentado uma perversa concorrência, inaugurada na gestão de Rosinha Garotinho. Ela deu uma série de incentivos aos interessados em migrar para seu estado, atraindo vários empreendimentos previstos para a Zona da Mata. Nem todos tiveram sucesso, mas ninguém retornou a Minas, cuja política fiscal ainda é perversa para quem tem planos de aqui investir.
Investir no Estado tem problemas. A Cemig, empresa estatal, nem sempre consegue atender à demanda, levando tempos para implantação de rede ou de transformadores para projetos de grande porte. Até a construção civil paga esse ônus. O Estado, agora sob a gestão de Romeu Zema, diz que a única alternativa de tornar a companhia eficiente é privatizá-la, mas tem problemas quase insuperáveis na Assembleia Legislativa. Ativos como a Cemig e a Copasa, a despeito de todas as queixas, têm forte respaldo parlamentar, e sua privatização tornou-se um grande desafio.