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O dia seguinte

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O general Walter Braga Netto, interventor federal no Rio de Janeiro, em recente entrevista, destacou as ações que estão sendo desenvolvidas em comunidades do Rio de Janeiro e apontou o que seria o nó górdio da questão: “Vamos levar o Estado para dentro da comunidade. E quando falo em Estado não falo apenas da parte policial, mas dos demais serviços”. E tem razão, pois uma das causas de vários projetos tanto na área de segurança quanto na de desenvolvimento humano não terem dado certo está na complementação dos serviços. A repressão para tirar o poder do tráfico é necessária, mas a população precisa de outros serviços, capazes, sobretudo, de conter o aspecto lúdico do crime, que seduz jovens e adultos com ofertas que poderiam ser feitas pelo Estado.

As Unidades de Polícia Pacificadora, que surgiram durante a gestão de Sérgio Cabral, ora preso, poderiam ter dado certo e sido exportadas para outras regiões, se não ficassem apenas no viés do enfrentamento. Seus agentes partiram para o confronto, ganharam os primeiros enfrentamentos, mas eles próprios ficaram isolados ante a falta de investimentos em outras áreas. O crime prospera especialmente em regiões nas quais não há postos de saúde adequados, espaços de lazer, pontos de serviço e até mesmo igrejas. Exceto a repressão, nada foi feito. Daí, quando o general faz tal observação, acredita-se que a lição foi aprendida.

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A complementação tornou-se um problema até mesmo em investimentos como o “Minha casa, minha vida”, programa estratégico para dar acesso à casa própria a milhões de pessoas que não conseguiram realizar o sonho comum de serem donas do próprio espaço. A implantação de condomínios de grande porte sem a cessão de serviços virou um problema para o entorno e também para os moradores, que se viram reféns do choque de identidade e do próprio tráfico, que passou a controlar algumas regiões. A causa, de novo, está na falta de projetos suplementares. Não basta fazer a praça se ela é desprovida de equipamentos; não dá para ter um posto de saúde no qual não há médicos e medicamentos e, muito menos, não há como se falar em paz se não há espaço para igrejas.

A segurança pública requer uma discussão holística, sob o risco de frustrar tanto os agentes do Estado quanto a comunidade. Como a intervenção tem dia marcado para terminar, as autoridades têm, necessariamente, que pensar no dia seguinte.

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