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Ensaios para 2022

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É comum no período pré-eleitoral o ressurgimento de siglas partidárias que passam pelo menos dois anos – intervalo entre pleitos – no limbo, prontas para abrigar candidatos e suprir cotas de legendas de grande porte que nem sempre conseguem acolher os interessados em um mandato. Tais partidos, geralmente, têm dono, que ficam responsáveis pelas negociações e pela ocupação de espaços nos governos dependendo do apoio dispensado.

A eleição para a presidência da Câmara Federal, embora sem qualquer semelhança com as disputas sazonais, também ocorreu sob o signo do balcão, com o Governo prometendo recursos e cargos, embora ainda não tenha, oficialmente, cumprido esses acordos, o que deve ocorrer apenas depois do carnaval, com mudanças no primeiro escalão.

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Desta vez, porém, chamou a atenção o impasse criado dentro do DEM, partido considerado grande e que se viu, de uma hora para outra, dividido ao meio por conta da eleição da Mesa Diretora da Câmara Federal. O ex-presidente Rodrigo Maia, até os 45 minutos do segundo tempo, acreditava que teria direito a um novo mandato, embora já estivesse no posto por quatro anos. Seu colega de Senado, Davi Alcolumbre, também do DEM, foi mais esperto, pois não esperou o STF dar o esperado não. Articulou a candidatura do mineiro Rodrigo Pacheco e recebeu as bênçãos dos correligionários e do Planalto.

Como esperou até o último instante e sofreu uma derrota acachapante na sua sucessão, Maia, que deve anunciar seu desligamento do DEM ainda esta semana, sai atirando. Acusou o presidente do diretório nacional, ACM Neto, de tê-lo traído ao entregar sua cabeça ao Governo. Em nota, o dirigente deu o troco. Classificou Maia de desleal, precipitado e de pensar somente em si mesmo. Uma amizade de 20 anos foi por água abaixo entre uma entrevista e uma nota da legenda.

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O episódio do DEM pode se replicar em outros partidos diante do modo como eles são comandados. A ideologia tem ficado à margem, e o pragmatismo tornou-se a moeda do jogo. Quem tenta atuar diferente corre o risco de ficar à margem do processo. Quem melhor faz essa articulação é o Centrão, que se mantém na presidência da Câmara e do Senado e ainda espera indicar pelo menos dois ministros de Estado. Será decisivo nas eleições do ano que vem.

Em entrevista à Tribuna, na coluna Painel, o cientista político Rubem Barboza, da UFJF, destacou que as eleições de 2022 já estão em curso e advertiu que o enfrentamento ao Governo só terá êxito se repetir os moldes dos EUA, onde antes do nome houve um projeto de oposição. Caso contrário, o presidente Jair Bolsonaro, a despeito de todas as críticas, terá seu mandato renovado.

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O discurso do professor é bem atual, pois o ex-presidente Lula, antes mesmo de conversar com outras legendas, já antecipou que, se não for ele, o ex-ministro Fernando Haddad deve ser o candidato do PT à Presidência da República. Dessa forma, repete-se o jogo de 2018, quando a oposição, na base do cada um por si, se dividiu no primeiro turno e não teve respaldo para atuar unida no segundo turno. Ciro Gomes foi para a Europa. Se o modelo permanecer, o cenário será o mesmo, e Bolsonaro, com provável apoio do Centrão, no qual se situa o DEM, e da direita, tende a ser o candidato único de seu grupo contra a fragmentada oposição.

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