Passados os eventos de fim de ano, as lideranças políticas ampliam as discussões voltadas para as eleições de outubro. Há, é fato, nomes já disponíveis para avaliação do eleitor, mas internamente o tema em voga são as alianças, que podem se configurar por meio das federações – uma espécie de coligação de longo prazo, por exigir “um casamento” de, no mínimo, quatro anos. Os partidos de menor porte tentam se aliar a legendas que lhes possam garantir mais recursos do fundo eleitoral e tempo de propaganda no rádio e na televisão.
O caso mais emblemático passa pelo Partido dos Trabalhadores, que tenta aliança com o PCdoB, o PSOL e o PSB. Com os comunistas a conversa avança, por haver mútuo interesse. Com o PSOL ainda há pontos a serem acertados. Com o PSB o impasse – já esperado – está na formatação de candidaturas. Em várias regiões, a começar por São Paulo, ninguém quer abrir mão da cabeça de chapa. Em entrevista à Tribuna, o deputado Júlio Delgado, um declarado crítico à aliança, observou que o PSB, depois de cortar o cordão umbilical há cerca de dez anos, não deve voltar ao antigo parceiro.
A federação foi um instrumento elaborado pelo próprio Congresso, após avaliar a experiência de 2020, na qual o pleito municipal ocorreu sem coligações. No “cada um por si”, as perdas foram acentuadas. Deputados e senadores, embora não retornassem com o velho formato, adotaram o modelo de aliança por quatro anos, que pode até dar resultados, por cortar o jogo de conveniências que perpassava as alianças de curto prazo. No entanto isso só não basta.
O país continua carecendo de uma reforma política consistente, a fim de garantir a governabilidade sem os jogos de poder que se apresentam ao curso do mandato. Como já foi, por mais de uma vez, destacado neste espaço, o Executivo fica refém do Congresso, e este, por sua vez, depende do poder de agenda do Governo, formando um perigoso caldo em que acordos não necessariamente republicanos são forjados.
Essa discussão, certamente, voltará aos palanques, mas será um déjà vu, já que, pelo menos de quatro em quatro anos, a necessidade de mudanças entra na pauta. Terminado o pleito, a discussão sai do noticiário. As reformas têm sido meros arremedos, como a que criou a federação. Ainda na legislatura anterior, duas comissões especiais foram criadas – uma na Câmara e outra no Senado – para tratar da reforma política. Após incansáveis discussões, os dois documentos ficaram para trás. Parece ser um mero jogo para a arquibancada.
Quando os pesquisadores vão a campo para saber a leitura das ruas sobre a instância política os números são emblemáticos: a credibilidade da instância política continua em curva descendente. Uma das razões é o não cumprimento do que se diz em campanha; outra é a aprovação de propostas de mera conveniência, apartadas do interesse coletivo.