O expressivo número de candidatos à Câmara nas eleições de 2020 tem uma explicação imediata na estratégia dos partidos ante o fim das coligações proporcionais. Se antes as parcerias eram fundamentais, agora a disputa tornou-se cada um por si, exigindo um contingente maior de postulantes para vencer o temido quociente eleitoral, pelo qual é definido o tamanho das bancadas no Legislativo. As previsões iniciais, embora fruto de especulação, apontam para uma média de 13 mil a 15 mil votos no pleito deste ano.
O crescimento foi expressivo, mas não bateu o recorde de 1988, após a Constituição Cidadã, que estabeleceu remuneração para o posto nos legislativos municipais. O número de interessados passou dos mil, mas os tempos eram outros, pois, além desse incentivo, ainda se respirava o frescor da redemocratização, com amplo interesse das ruas em participar do processo político.
O pleito de 2020, além de marcado por uma grande divisão ideológica, inaugurada há dois anos na disputa nacional, se faz sob condições atípicas da pandemia do coronavírus. Os partidos precisam adotar novas estratégias para obter o maior número de votos possível. Sem coligação e com pouco acesso às ruas, com o impedimento de aglomerações, congestionar as chapas foi uma das saídas.
O novo modelo deve deixar à margem legendas que só apareciam em tempos eleitorais, que acabavam obtendo mandatos por estarem agregadas a partidos com maior mobilização e com os chamados puxadores de voto. Não é de graça o país ter mais de 30 partidos representados no Congresso Nacional. O que seria uma saudável diversidade tornou-se um balcão, no qual todo tipo de acordo é firmado em torno de interesses pouco republicanos. Os escândalos da história recente foram movimentados, em parte, por esses atores de partidos de aluguel.
Juiz de Fora tem tradição em seus pleitos e, desta vez, com a novidade que vai além do expressivo número de candidatos à Câmara. A corrida pela Prefeitura terá cinco candidatas – este, sim, um dado inédito na história do município desde as primeiras eleições municipais, no início dos anos 1930. Num cenário de 11 postulantes, cinco são mulheres, com um dado a mais: não são meras coadjuvantes no processo, bastando ver os recentes números das pesquisas eleitorais.
É preciso ressaltar este aspecto por conta de exemplos nos recentes pleitos, em que as mulheres apareciam nas chapas, especialmente para o Legislativo (Câmara Federal, Assembleia ou Câmara Municipal) apenas para cumprir tabela. Na última eleição nacional, pelo menos duas centenas de postulantes a uma vaga na Assembleia e na Câmara Federal, por Minas, zeraram nas urnas, confirmando o papel de laranjas para formação de chapas. De novo, por conta de sua tradição, Juiz de Fora passou longe dessa mazela.