O Tribunal Superior Eleitoral marcou para junho o anúncio oficial do número de eleitores habilitados a irem às urnas de outubro, com a devida estratificação por estados, municípios, mas os dados iniciais são reveladores. De acordo com o próprio TSE, 2.042.817 jovens, com idade entre 16 e 17 anos, fizeram seus títulos até o último dia 4, numa reviravolta no quadro de desinteresse que pairava até o início do ano. Eles atenderam ao chamado de influenciadores, artistas e de diversos outros segmentos – como a imprensa – que alertaram para a importância do voto.
Esse êxodo de última hora foi motivo de discussão em vários comitês – e por diversas razões – por tratar-se de um contingente não só expressivo, mas capaz de transitar pelas redes sociais com forte poder de articulação. Em 2013, milhões de jovens, numa jornada de causas difusas, foram às ruas e mostraram sua força. Agora, foram aos cartórios para apresentar sua intenção de participar do pleito.
Os números, ora emblemáticos, são um recado à própria instância política, que perde tempo e energia em discussões menores, enquanto mais de 2 milhões de adolescentes, ao aderirem ao pleito, indiquem que sua pauta é outra. Estão cansados desse ciclo maniqueísta que envolveu a política nos últimos anos, quando é o seu futuro que deveria estar em questão. Portanto, cabe aos candidatos ajustarem suas agendas e ligarem o radar para essa nova demanda.
Antes mesmo de o TSE apresentar seus números, um outro dado – embora já recorrente há anos – aponta o contingente de mulheres, que continua em escala crescente nos colégios eleitorais. A cada quatro anos, as brasileiras se consolidam cada vez mais como a maioria do eleitorado nacional. Em março, eram 78,4 milhões habilitadas a votar e ser votadas, enquanto o número de homens registrados na Justiça Eleitoral foi de 69,8 milhões, uma diferença de 8,5 milhões. As mulheres, hoje, representam 53% do eleitorado; os homens, 47%. A diferença de seis pontos percentuais tem crescido a cada eleição presidencial.
A cientista política Marjorie Corrêa Marona, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista ao portal G1, destacou que as mulheres são mais afetadas pelas crises econômicas, pelas desigualdades sociais e pela violência. Tal processo, segundo ela, acentuou-se durante a pandemia do novo coronavírus, por ter forçado ainda mais o ciclo de exclusão.
Os candidatos, em todas as instâncias, devem falar às mulheres e aos jovens para conseguirem seus propósitos de eleição (ou reeleição), por se tratar de um grupo decisivo nas urnas e com forte poder de mobilização.
No caso do voto feminino há, ainda, o desafio da representação. Maioria nos colégios eleitorais, não refletem esses números nas casas legislativas. No Congresso, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais – a despeito de todos os avanços -, ainda são minoria. Talvez, como destacou a professora Marjorie Corrêa, por terem uma agenda dobrada, mas é necessário investir nesse potencial de votos para equilibrar o jogo.