A bandeira branca hasteada entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, repercutiu imediatamente no mercado com a queda do dólar. Depois de um guisado de bode, os dois saíram do jantar pedindo desculpas, por só agora perceberem o tamanho de ambos nas demandas nacionais. Tanto o deputado quanto o ministro precisam se convencer que suas idiossincrasias devem ficar em segundo plano quando estão em jogo temas de relevância para o país. O ministro acusou o deputado de ter uma agenda de esquerda, enquanto este colocou em dúvida a sanidade mental do ministro.
Esse jogo de palavras fica bonito para os seguidores, mas não se sustenta quando se destaca que a ação mútua é mais importante para avançar em pautas importantes. A principal delas é a reforma tributária. A matéria está no Congresso, e o que menos se espera é um impasse em decorrência das diferenças pessoais entre as duas autoridades. Conceitos se discutem e se busca consenso; teimosia, não. A pacificação foi um passo importante para a discussão voltar à sua trilha.
A reforma tributária carece de ampla avaliação por conta de pontos que ainda precisam ser pacificados. Os municípios, nos quais tudo acontece, precisam ter mais voz no debate em decorrência das consequências do projeto. Fala-se com frequência na divisão mais justa dos recursos, mas a fórmula ainda é incerta. As associações de secretários de Fazenda têm alertado que o modelo tem imprecisões, a começar pela forma como os recursos chegarão aos caixas municipais. Se forem carimbados, como está proposto no texto inicial, poderão provocar distorções, isto é, serem destinados a uma determinada rubrica quando é a outra que carece de investimentos.
Em recente debate no Grupo Solar de Comunicação, o secretário municipal de Fazenda, Fúlvio Albertoni, chamou a atenção para essa possibilidade. “Não adianta o dinheiro chegar para uma determinada ação, quando é outra quem carece de investimento”, alertou. Essa advertência, segundo ele, já chegou aos deputados e está sendo acompanhada pelos municípios.
Os projetos quando saem do Governo e chegam ao Congresso são passíveis de mudanças, pois é do jogo democrático. A reforma apresentada pela equipe do ministro Paulo Guedes passa por depurações, mas, quando as linhas de conversa estão abertas, como ele e o presidente da Câmara asseguraram, os ruídos são superados, e o projeto ideal pode ser o resultado final das conversações.