Quando vieram a público os áudios do empresário Joesley Batista, denunciando uma conversa com o presidente Michel Temer, acreditava-se, também, ser o fim de um ciclo. Ledo equívoco, pois as novas gravações, fruto, talvez, da imprudência – ou da arrogância – do empresário, indicam que ainda há muito para ser dito. Blindados por uma imunidade concedida pela Procuradoria-Geral da República, o executivo e seu principal assessor falam de um filme de horrores, envolvendo política, corrupção, sexo e traições. E mais, citam os nomes dos ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski num contexto em que não há indicações de ilícitos, mas a divulgação feita pelo procurador Rodrigo Janot não vendeu essa impressão. Por isso, tem razão a presidente do STF ao cobrar, com data de início e de encerramento, profundas investigações, pois não há espaço para qualquer dúvida sobre a Corte.
No meio da gravação, o empresário disse que a Odebrecht já tinha desmobilizado o Congresso e que ele, depois do Executivo, faria o mesmo com o Supremo, num típico jogo próprio dos boquirrotos, mas que aponta, no fundo, para as suas más intenções. A nota que ele e seu parceiro emitiram, já na noite de terça-feira, pedindo desculpas e dizendo que só falaram mentiras, num “ato vergonhoso”, em nada melhora a sua situação e nem dá fim a esse enredo. Só piora, pois indica a baixa credibilidade do que é falado e dá margens – como já está em curso – a pedidos de anulação da denúncia feita contra o presidente da República elaborada pela PGR.
Os feriados prolongados costumam reduzir o impacto de determinados episódios, mas as novas gravações não podem, simplesmente, cair no vazio ante a sua gravidade. Joesley também põe no pacote o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, mas, no mesmo contexto, admite que ele não topou qualquer negociação. Mesmo assim, jogam lama na biografia do ex-ministro, como tornou-se rotina nesse ciclo de denúncias. A investigação exigida pela ministra Cármen Lúcia visa, também, dar um basta a esse tipo de comportamento, no qual o exercício principal é falar de terceiros em defesa própria sem preocupação primária de veracidade. Revogar os benefícios da delação torna-se cada vez mais necessário, para indicar ao país que, a despeito de todos os acordos, a ninguém é facultado ficar acima da lei.