O Brasil tem uma tradição de vacinação, bastando ver o número de doenças que foram consideradas extintas graças à imunização em massa que se tornou uma rotina ao longo das últimas décadas. No entanto a politização do processo em meio à pandemia do coronavírus tem provocado a reversão do quadro. Como a Tribuna mostrou na edição dessa quarta-feira, em matéria da estagiária Elisabetta Mazocoli, sob supervisão da editora Rafaela Carvalho, a vacina obrigatória não atinge 50% das crianças.
Quando o país enfrentou uma onda de febre amarela, resultado, sobretudo, da contaminação pelo Aedes aegypti – o mesmo mosquito da dengue -, os brasileiros acorreram aos postos, e, imediatamente, a contaminação foi contida.
O entendimento de a doença ter sido extinta teve forte colaboração na queda da imunização, mas a política negacionista foi a que mais contribuiu para esse processo. Por motivações políticas e até religiosas, diversos segmentos veem nas vacinas uma ação invasiva que contraria os princípios da liberdade individual. Os críticos desse modelo recorrem à visão utilitarista de o interesse coletivo prevalecer sobre o individual.
Retomar a confiança da população nos processos de vacinação em massa deve ter como base intensa campanha de esclarecimentos, sobretudo nas escolas, por serem os jovens as principais fontes de convencimento das famílias.
Ademais, a própria pandemia do coronavírus, cuja imunização ainda é rejeitada por uma expressiva parcela da população, pode ser utilizada pela ótica inversa. O país, que teve mais de 600 mil mortos pela Covid, só viu os números despencarem após a vacinação. Pela imunização é possível já andar sem máscara e, opcionalmente, deixar de usá-las até em determinados locais fechados.
A luta continua, pois o vírus passa por diversas mutações, mas é fundamental considerar que vacinas são a forma mais eficaz para o enfrentamento às doenças, sobretudo ante a instabilidade climática do planeta, que de tempos em tempos produz novas endemias.
A fabricação de imunizantes em tempo recorde mostrou que a ciência também se atualizou. Se em outras épocas a criação de vacinas levava quase uma década, em um ano, o mundo achou o antídoto para o coronavírus. Mas tudo isso só será possível se a população se convencer da importância de receber as doses. Caso contrário, tudo será em vão.