A pandemia do coronavírus tem se mostrado perversa sob vários aspectos. O número de mortos no Brasil é o principal deles, resultado de várias inações e da falta de leitos de UTIs em boa parte dos estados, mas as consequências vão além disso. Como ocorre em períodos de crise, há sempre os que se aproveitam da situação para tirar vantagens. No início do ano, quando Manaus foi o epicentro da falta de cilindros de oxigênio, a polícia detectou casos de grupos que guardavam os equipamentos para vendê-los com preços bem acima do mercado.
Há cerca de 15 dias, um grupo de empresários de Belo Horizonte, utilizando os princípios da Lei do Gerson, comprou vacinas no mercado informal, recebeu a imunização e agora está sendo alvo de investigações. Mais do que isso, por ironia do destino, está sob o risco de ter recebido um placebo. A responsável pela aplicação tem histórico policial, e o material encontrado sugere ser falsificado. Os envolvidos furaram a fila, burlaram a lei e ainda podem estar no ponto zero, isto é, carecendo da verdadeira imunização.
O Ministério Público acompanha o caso, mas não tipificou, ainda, que tipo de crime os suspeitos podem ter cometido, mas já definiu que alguma punição tem que ser aplicada. O mesmo raciocínio está sendo levado em conta no caso dos funcionários da Secretaria de Estado da Saúde que foram beneficiados pela vacinação antes do momento estabelecido pelas regras da própria secretaria. Neste caso, porém, a CPI da Assembleia Legislativa tem uma leitura distinta. Vários parlamentares entendem que a punição deve recair apenas sobre os que deram a ordem para tal operação.
Reconhecida pelo próprio Gerson como uma atitude antiética, tirar vantagens indevidas é um ato condenável, sobretudo quando todos estão no mesmo barco. Lidar com tais situações, no entanto, deve exigir serenidade, pois há casos e casos, o que remete o veto à condenação imediata, comum no território virtual.
O estresse coletivo tem levado parte da população a se submeter a práticas ilegais, como é o caso das festas clandestinas. Por menos que conheçam sobre as consequências da pandemia, os frequentadores não podem alegar desconhecimento dos fatos. Por isso, quando flagrados em tais eventos, deveriam passar por algum tipo de sanção por cometerem, no mínimo, um dolo eventual – não querem os resultados, mas sabem que seus atos podem ter consequências graves. E os números provam isso. O perfil de internação envolve cada vez mais jovens, muitos deles frequentadores de eventos ilegais por terem se considerado imunes à doença. Lamentável equívoco.