Quando surgiu, o crack tornou-se de fácil acesso por conta de uma trágica combinação: preços “acessíveis” e um potencial de vício bem mais acentuado do que outros entorpecentes – como a maconha, até então a de maior apelo. O resultado foi trágico, pois se espalhou rapidamente pelas metrópoles, envolvendo as camadas mais pobres, e com um dado a mais e de consequências graves: chegou às pequenas cidades, até então infensas a esse tipo de droga.
Nas grandes e médias cidades, um novo cenário foi incorporado à paisagem com as cracolândias se disseminando por todos os cantos, abrigando centenas de pessoas à mercê da própria sorte. São cenas degradantes, por conta do envolvimento desses personagens sem nome, mas que um dia tiveram uma história, uma família e até mesmo um emprego, ora jogados nos guetos, apartados da sociedade.
Uma pesquisa publicada pela Confederação Nacional de Municípios no mês passado aponta que o crack afeta 97,31% de 1.599 cidades brasileiras, que integraram o estudo. Entre os municípios que participaram do levantamento, sete (14,9%) admitiram enfrentar grandes dificuldades ao apontar que o nível de problemas causados pelo consumo e pela circulação de drogas é alto.
Juiz de Fora não participou da pesquisa, mas seus programas passam por mudanças. O Plano Municipal de Políticas Integradas Sobre Crack, Álcool e outras Drogas, ora sob a bandeira da Secretaria de Governo, deve migrar para a Secretaria de Desenvolvimento Social, devendo ser revisto em parte e aprimorado. É o que garante a secretária de Desenvolvimento Social Tammy Claret.
O crack e outras drogas não são problemas que se encerram em si mesmos. Os danos colaterais são intensos e de consequências graves. A maioria dos crimes contra o patrimônio tem a droga como matriz, pois, em não encontrando meios para adquiri-la, o dependente primeiro se apossa do patrimônio da própria residência. Numa etapa posterior, vai para o vizinho e se torna um autor de furtos contumaz, numa ciranda sem fim.
Os dados sobre homicídios passam pela mesma trilha. Não só os usuários, mas os traficantes se envolvem em crimes contra a vida na disputa por territórios. O tráfico é a fonte principal de tais ocorrências.
Enfrentar o problema, porém, não é apenas uma questão policial. Ao contrário, a droga tem que ser vista como uma demanda de políticas públicas de saúde, com o envolvimento coletivo do Estado e da sociedade, pois todos perdem: o Governo, com o dispêndio de recursos imensuráveis para suas ações, e a sociedade, que se depara cotidianamente com famílias destroçadas pela dependência.