A insistência do deputado Roberto Jefferson em manter a indicação da própria filha para o cargo de ministra do Trabalho é o retrato claro de como algumas lideranças tratam a política com personalismo, não se importando com causas ou opinião pública e, muito menos, com o interesse da coletividade. Ela já foi preterida em várias instâncias da Justiça e enfrenta, agora, uma nova denúncia. De acordo com jornais do Rio de Janeiro, ela foi notoriamente privilegiada em votações nas regiões controladas pelo tráfico, fruto, provavelmente, de acordos firmados por prepostos. Não há provas materiais, mas as combinações de resultado impressionam. É dela, porém, o benefício da dúvida.
No entendimento ético, não deve haver margem de dúvidas para os indicados para postos de tamanha relevância. O princípio da probidade deve ser uma cláusula pétrea – embora não aplicada -, que volta a ser colocado em xeque ante a insistência do presidente do PTB. Os próprios pares já não escondem o desconforto, por perceberem que o dirigente, em vez de se preocupar com a legenda se volta para o viés familiar para se colocar no poder.
Como no presidencialismo de coalizão o Executivo vive à mercê dos partidos, o Governo ensaia uma série de recursos às instâncias do Judiciário, mas torce para a manutenção do veto, uma vez que, após a indicação, o desgaste se volta para o palácio, que já tem problemas demais para acrescentar mais um. O presidente da República deveria utilizar a sua habilidade política, conquistada ao longo dos anos de vida pública, para conversar com Roberto Jefferson e demovê-lo da ideia. Fingir que não há preocupação pode dar certo num momento, mas seria melhor seguir o ditado das ruas de ficar amarelo enquanto conversa do que vermelho após a confirmação.
O presidente Tancredo Neves, respaldado na sabedoria mineira, dizia que não se contrata quem não é possível demitir. O caso da deputada Cristiane Brasil tem esse perfil. Investida no cargo, será uma pedra no sapato do presidente, mesmo se surgirem novas denúncias.