Enquanto o setor de comércio e serviços está em apuros em quase todo o país não só por conta do fechamento dos pontos físicos de venda e atendimento para conter o avanço da pandemia, mas também pela queda na renda da população, alguns poucos segmentos econômicos têm conseguido sobreviver à pandemia e com resultados até surpreendentes. Um movimento que acaba salvando um pouco o difícil balanço da economia de 2020.
No último dia de dezembro, a Tribuna publicou matéria mostrando que o setor supermercadista estima a maior alta nas vendas em sete anos, ou seja, pretendia encerrar 2020 com um melhor desempenho desde o verificado em 2013. A expectativa da Associação Brasileira de Supermercados é terminar o período com incremento de 5% nas vendas. Um movimento que reflete diretamente uma mudança de comportamento do consumidor, que tem permanecido mais tempo dentro de casa.
Na lista dos setores considerados essenciais, os supermercados podem funcionar normalmente nos períodos mais duros da onda vermelha, diferentemente de restaurantes, bares e lanchonetes, que têm que ficar parcialmente fechados. Se as pessoas tendem a ficar mais isoladas em suas casas, e sem viajar para manter o distanciamento social, a alimentação acaba sendo produzida dentro dos próprios lares. Isso explica o bom desempenho do segmento.
Outro impacto que parece natural é o de maior dinamismo do e-commerce brasileiro. A transformação ocorreu não só por conta do aumento das vendas a distância, mas também pela diversificação dos produtos vendidos e até pelo jeito de operar, podendo o comprador utilizar canais disponibilizados em sites, WhastApp e Instagram. E não só os gigantes do varejo on-line se reorganizaram, mas os pequenos comerciantes e produtores locais também aderiram às novas práticas.
Em Juiz de Fora, muitos lojistas de shopping e rua passaram a utilizar o e-commerce, transformando seus pontos de vendas em pontos de distribuição, para envio ou retirada dos produtos. Um relatório da Ebit/Nielsen apontou que, só no primeiro semestre de 2020, 7,3 milhões de consumidores ingressaram no e-commerce, ou seja, quase a mesma quantidade de novos brasileiros que passaram a fazer compras on-line no ano inteiro de 2019.
O ano também terminou melhor do que o esperado para o mercado imobiliário. De janeiro a novembro, as operações de financiamento contratadas com recursos da caderneta de poupança mostram um aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano anterior e é o melhor resultado desde 2014. Quem não foi diretamente impactado pela pandemia com perda de emprego ou redução da renda passou a valorizar o estar em casa. Por isso o segmento de móveis também surpreendeu positivamente no final do ano.
Em 2021, para muitos outros setores, as projeções continuam preocupantes, como de roupas, calçados e acessórios. O fim do pagamento do auxílio emergencial deve impactar milhões de trabalhadores já em janeiro, reduzindo o poder de compra, que já é mínimo. É muito difícil comemorar o bom desempenho de alguns segmentos, quando o todo parece naufragar, mas é bom saber que parte dos empregos foi preservada, assegurando renda para muitas famílias.