Terminou ontem o prazo para retirada de títulos de eleitor e atualização de documentos, com um resultado considerado acima das expectativas, principalmente se for levado em conta que, até um mês atrás, a Justiça Eleitoral chamava a atenção pela baixa procura e cobrava ativismo de formadores de opinião, para incentivar, especialmente os jovens a se habilitarem para o pleito de outubro. Os números definitivos dessa campanha ainda são desconhecidos, mas, pelas filas que cresceram no fim de semana e aumentaram nos três últimos dias, dá para acreditar que a conscientização ocorreu.
No entanto, percebe-se também o velho costume da última hora. De um modo geral, a população esgota todos os prazos mesmo quando se trata de seus direitos. Acontece o mesmo na declaração de imposto de renda, cujo prazo, este ano, foi estendido até 31 de maio, a fim de garantir maior engajamento.
Pesaram, de fato, as advertências sobre a importância do documento. Sem o título eleitoral, não se pode participar de licitações ou concursos públicos, obter empréstimos em instituições públicas, obter o CPF e tirar o passaporte, mas o fundamental é considerar o papel que o eleitor desempenha nos pleitos. A ida às urnas é um momento solitário, quando há o exercício pleno da cidadania na escolha de seus representantes. O mandato – pelo próprio nome – é uma procuração que o povo dá aos políticos para representá-lo nas instâncias de poder. Daí, a responsabilidade dessa escolha começa na confecção do título.
O direito de votar é resultado de muitos eventos no decorrer da história republicana. Houve um tempo em que só homens poderiam exercê-lo. Depois de muitas campanhas, ainda no século XIX, ele só se consolidou em 1932, a partir do Código Eleitoral, decretado durante o Governo Vargas, apontando, já naquele tempo, o esforço feminista pela equiparação de direitos entre homens e mulheres – dado que ainda não se consolidou nos tempos de hoje.
O aumento do Colégio Eleitoral deve seguir ao avanço da população. A luz amarela acendeu no TSE quando se percebeu a defasagem entre o número de brasileiros e o de habilitados a votar e ser votados, por colocar em xeque a própria democracia. Os jovens, especialmente, ao resistirem a antecipar a obtenção do título, deram claras evidências de descontentamento com o próprio modus da política. A polarização dos últimos quatro anos foi um dos indutores desse processo, sobretudo por suas consequências. A despeito de estar em jogo o viés ideológico – outro instrumento importante no processo democrático -, a forma como ele foi colocado em cena mudou posturas e apartou relações, inclusive familiares.
Com as redes sociais repercutindo todos esse cenário de incertezas, a primeira reação foi para o caminho da omissão, que é mais grave do que a participação nos embates. A democracia se faz pelo choque de ideias, desde que não ultrapasse limites, mas ficar fora desse processo incentiva, sobretudo, os extremos.
O país tem desafios importantes a serem resolvidos cujo primeiro passo passa necessariamente pela eleição de bons representantes em todas as instâncias. É comum a discussão ter mais ênfase na disputa presidencial, pelos governos estaduais e prefeituras, mas a escolha de senadores, deputados – federais e estaduais – e vereadores têm a mesma relevância, pois são eles, em princípio, os responsáveis pela elaboração de leis e fiscalização dos dirigentes dos executivos e têm o papel de porta-vozes do povo.