A ausência da prefeita Margarida Salomão nas urnas de outubro, por ter planos de cumprir integralmente o mandato, muda o perfil das eleições em Juiz de Fora, sobretudo na corrida por uma vaga na Câmara Federal. A chefe do Executivo deixa um lastro de votos que estão abertos para eventuais sucessores, embora essa transferência não seja automática. O eleitor brasileiro, a despeito do cenário polarizado, tende a votar pela via pessoal quando se trata de cargos legislativos, salvo as exceções que se manifestam ideologicamente.
A prova material desse comportamento pode ser colhida no decorrer do tempo. O eleitor vota no nome que mais lhe chama a atenção ou pede pessoalmente o voto, mas não mantém vínculos. Um exercício para constatar esse afastamento é lembrar em quem votou no pleito anterior. Vale tanto para deputado quando para vereador.
Por conta disso, a busca pelos votos da prefeita de Juiz de Fora não é um exercício simples, principalmente se ela mantiver intenções iniciais de não ir a campo pedir voto para candidatos específicos. Por enquanto, o Partido dos Trabalhadores tem dois pré-candidatos: o presidente da Câmara, Juraci Scheffer, e a secretária municipal de Saúde, Ana Pimentel.
É certo que as coisas no PT se resolvem de forma distinta, pelo fato de a legenda não ter um cacique que determine em quem votar, embora a prefeita, por já ter sido deputada e atualmente dirigir a cidade, tenha o poder de agenda. Sua posição pode ser decisiva.
Em outras legendas, como aponta matéria na edição de domingo da Tribuna, de autoria do repórter Renato Salles, também há os dilemas, sobretudo por conta do excessivo número de nomes que têm a pretensão em buscar um mandato. A Câmara sai na frente, mas nem todos, no momento final, vão às urnas, enquanto outros se apresentam mais para garantir visibilidade para o pleito de 2024. Há, porém, os que estão convencidos de mudar de patamar, como aconteceu no pleito passado, quando três vereadores, Sheila Oliveira (PSL), Charlles Evangelista (PSL) e Roberto Cupolillo (PT), foram eleitos deputados.
A definição do quadro de candidatos pela Câmara e os demais vai depender da janela eleitoral, de março até o início de abril. O processo se desenvolve de acordo com as possibilidades, isto é, os políticos avaliam o perfil da legenda, a sua capacidade de articulação e, principalmente, os recursos que terão para implementação de candidaturas. Por isso, a Câmara, a partir do primeiro trimestre, poderá ter um cenário partidário distinto do resultante das eleições de 2020. Tudo em função das eventuais candidaturas.
Enquanto a janela não se abre, as conversas estão em curso, o que é próprio do momento. O eleitor, pelo menos por enquanto, está distante desse processo, com atenções voltadas para as variantes do coronavírus e para as contas de início de ano que já começam a chegar.