Tem razão o secretário de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade, Ignácio Delgado, ao classificar de “lenda urbana” o discurso recorrente de que em Juiz de Fora não corre dinheiro. A prova material está na pesquisa da Geofusion, empresa de inteligência de mercado com sede em São Paulo, apontando que a cidade possui capacidade de consumo superior a R$ 21 bilhões. No ranking mineiro, perde lugar apenas para a capital, Belo Horizonte (R$ 90 bilhões), e Uberlândia (R$ 24 bilhões). Ao todo, foram avaliados 50 municípios brasileiros.
Ao subir no ranking, Juiz de Fora mostra, também, a força de seu setor produtivo e da qualificação de sua mão de obra, bens que precisam ser incentivados para garantir essa ascensão. Nos últimos anos, lideranças de diversos segmentos atuam para desmitificar o velho discurso e apontar caminhos para o futuro, o que só será possível com confiança, inclusive, no setor público, um dos principais fatores de fomento para essa mudança de mentalidade.
Não é de hoje que se sabe das potencialidades da cidade. Cortada por duas rodovias federais e com dois aeroportos na sede e no seu entorno, precisa, sim, levar adiante políticas que incrementem o atual cenário. O Aeroporto da Serrinha, agora sob gestão da Infraero, tem que mudar de perfil, enquanto o Regional, entre as cidades de Goianá e Rio Novo, tem que mudar de patamar, investindo na sua capacidade de ser um terminal industrial.
Para tanto, porém, é necessária a revitalização das vias que lhe dão acesso, sobretudo na interligação com o Porto Seco, na Zona Norte de Juiz de Fora.
Situada entre as três principais capitais do país – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte -, a cidade pode, também, se transformar num “huble”, capaz de integrar os três grandes centros e se tornar um polo permanente de desenvolvimento. A instância política pode dar grande contribuição se atuar de forma integrada em projetos vitais para essa mudança.
A cidade esteve bem perto de ser sede de um polo tecnológico, que teria a participação direta da Universidade Federal, quando foi surpreendida pela desidratação de recursos para as universidades. O polo, a ser instalado às margens da BR-040, seria um indutor de desenvolvimento e de formação de profissionais. A mão de obra é um dos ativos mais importantes da cidade, mas, para garantir a sua permanência, é preciso gerar demanda. A retomada do projeto deve ser uma das muitas prioridades.
A lenda urbana surgiu após o município viver dois momentos críticos de sua história: a perda do perfil de produtor de café e, posteriormente, o esvaziamento de suas atividades no setor de malharias que a levaram à condição de Manchester Mineira.
No entanto é fundamental retomar a vocação da cidade. O passado é vital para compreender o que foi feito e o que causou o fim do ciclo virtuoso. Com tais referências, é possível traçar o futuro. Juiz de Fora vai virar essa página.