O fechamento da janela partidária e algumas surpresas por ela proporcionada é a prova material de que o jogo político nem sempre envolve o viés ideológico. Político faz conta, e a opção passa, necessariamente, pela possibilidade de manter ou conseguir um mandato, o que exige uma logística própria. Nem sempre um candidato com mandato encontra espaço em determinada legenda, já que, no mundo do fazer conta, os demais candidatos consideram que alguém já detentor de mandato mais atrapalha do que ajuda. E mais, que vão, na verdade, trabalhar para tais personagens em vez da própria consagração nas urnas.
A janela partidária foi o instrumento encontrado pela própria instância política, com o aval do TSE, para resolver desconfortos dos candidatos. Com o fim da coligação e a adoção da federação, que implica uma aliança de quatro anos, o processo de busca do partido ideal tornou-se um projeto que exige estratégia. A maioria só bateu o martelo no apagar das luzes, após confirmar a opção de eventuais pretendentes. Outros sustentaram o discurso de ficar ou optar por um determinado partido até a última hora. Na hora da definição, seguiram outro caminho.
É do jogo, mas não é de hoje que se avalia a propriedade do mandato. O eleitor, quando vai às urnas, aposta em determinado projeto ou programa de governo. Ao mudar de partido, o político nem sempre segue o mesmo viés ideológico da sigla pela qual se elegeu. Na discussão política, esse tipo de estelionato vem sendo avaliado, mas ainda não chegou ao Congresso nenhum projeto capaz de levar tal questão em consideração.
É fato que os partidos também não têm sido o melhor exemplo de formatação ideológica. Num Congresso com mais de 30 legendas – a despeito de regras para redução de partidos – boa parte se sustenta por articulações em torno do poder, seja ela de qualquer tendência. Do mandato de Fernando Henrique Cardoso, inaugurado em 1994, até os dias de hoje, a sustentação parlamentar se deu pelas mesmas legendas, embora nem FHC nem os sucessores – Luiz Inácio Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro – tivessem a mesma linha programática ou ideológica.
O próprio Parlamento cria condições para esse jogo, quando tão logo cria uma cláusula de barreira – como número mínimo de votos e fim das coligações, por exemplo – e abre janelas como a federação. É uma coligação de longo prazo, mas não deixa de ser uma válvula de escape para partidos de menor poder eleitoral.
A cada pleito, o Congresso eleito anuncia várias medidas que acabam vencidas pelo próprio tempo. Com tanta legislação e pouca implementação, quem fica inseguro é o eleitor, por não saber se a sua intenção ao votar será confirmada nas ações de seu representante. E, quando o número de inscritos nos colégios eleitorais começa a cair, como foi registrado no início do ano, se procura uma justificativa que todos conhecem de cor e salteado.