Em todos os pronunciamentos da sessão de reabertura do ano legislativo no Congresso Nacional, a palavra recorrente foi defesa da democracia. Uns com mais, outros com menor ênfase, mas houve consenso na importância das instituições, o que é um bom sinal para inaugurar um período em que a eleição geral será a pedra de toque, já que estarão em jogo Presidência da República, Câmara e Senado Federal, além do pleito nos estados envolvendo governadores, senadores e deputados estaduais.
Primeiro a falar, o presidente Jair Bolsonaro já antecipou alguns temas que levará para o embate, especialmente contra o seu oponente Luiz Inácio Lula da Silva, ao pontuar que a reforma trabalhista é uma pauta consolidada e que a liberdade de imprensa é um legado. O petista, em recentes manifestações, já antecipou que pode rever a reforma enquanto o PT, ao longo dos anos, sempre manifestou interesse em estabelecer algum tipo de regulação sobre a mídia. A fala do presidente, porém, já era esperada, pois ele também estava falando ao Congresso sobre as realizações de seu mandato.
A democracia foi o tema principal de Luiz Fux – presidente do STF, que já tinha feito o mesmo na véspera, quando abriu o ciclo de audiências do Judiciário – do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Na fala de ambos chamou a atenção a preocupação com a longa agenda do Parlamento, que precisa ser esgotada, preferencialmente, no primeiro semestre. Eles deixaram claro aos colegas que o palanque só deve ser ocupado a partir do segundo semestre, quando as convenções já tiverem definido, oficialmente, os atores de outubro.
Entretanto, entre o discurso e a prática, sabe-se que a campanha já está nas ruas, bastando ver a pauta do próprio Congresso, as ações do Governo e a reação da oposição. Os discursos são marcados pelo proselitismo eleitoral, embora ainda haja necessidade de algumas agendas, como a janela partidária, consolidação das alianças e, finalmente, as convenções.
Tudo isso, porém, faz parte do jogo, e seria ingenuidade considerar que os políticos, diante do único momento em que enfrentam o olhar das ruas, iriam se afastar da pauta eleitoral. Devem, porém, não só cumprir sua agenda nos parlamentos, mas também apresentar, já, as propostas que têm para inserir nos seus programas de governo.
O eleitor deve ter a preocupação com os projetos, e não com o previsto jogo de ataque e defesa que se acentua, sobretudo, num ambiente polarizado. O país tem demandas importantes pela frente, e saber como os políticos vão enfrentá-las deve, sim, ser a prioridade.