O presidente Michel Temer, a despeito de todo o desgaste que marca sua administração, tem que seguir em frente com o projeto de reformas, ainda este ano, pois 2018 será marcado por enfrentamentos em torno da eleição presidencial. É agora ou nunca, e ele sabe disso quando diz que não se importa com o veto de setores da opinião pública, preferindo ser visto no futuro como presidente das reformas.
Sem respaldo das urnas e sem perspectiva de um novo mandato, o chefe do Executivo, paradoxalmente, tem a oportunidade de fazer o que seus antecessores não quiseram ou não tiveram coragem de fazer, temendo danos à sua possível reeleição. A reforma da Previdência, o principal teste a ser enfrentado, é uma delas. Os protestos nas ruas apontaram para o descontentamento popular, muitas vezes forjado no desconhecimento, valendo o mesmo para o caso da reforma trabalhista. Setores interessados em manter o atual status mobilizam a opinião pública contra duas medidas, politicamente antipáticas, mas necessárias para o país.
E ainda resta a reforma política. A despeito de ser de consumo mais interno do que das ruas, em comparação com os outros dois projetos, ela é fundamental para o funcionamento da instância política, que hoje paga o preço por não ter feito antes as mudanças. O financiamento de campanha tornou-se um problema, por ser a matriz dos descalabros ora desvendados pela Lava Jato, e o excessivo número de partidos é a fonte de tantas dificuldades para se fazerem? reformas, porque há sempre um preço a pagar, especialmente às legendas com forte viés de balcão, controladas por caciques políticos por garantirem acordos em períodos eleitorais.
Até o fim do ano haverá tensões, mas, a partir das mudanças, será possível fazer no próximo pleito o debate em torno de projetos para o futuro, e não apenas um enfrentamento de grupos, tipo nós e eles, que contribuiu em nada para o país.