As chuvas de verão são eventos de período marcado, mas os municípios continuam sendo surpreendidos pelos danos das águas, como é possível constatar em Minas: 55 mortos, dezenas de milhares de desabrigados e prejuízos que ainda estão sendo contabilizados. Na edição deste domingo, a Tribuna mostra o relato de empresários e lideranças políticas apontando o impacto na economia e as estratégias de recuperação. Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil fala em R$ 500 milhões para retomar a normalidade na capital, mas os R$ 900 milhões liberados pelo presidente Jair Bolsonaro, durante sua visita ao estado, na última quinta-feira, devem ser distribuídos por toda a Região Sudeste, já que o Estado do Espírito Santo e o Norte do Rio de Janeiro também foram atingidos.
A Zona da Mata deve entrar no pacote, mas não tem certeza da sua cota nos recursos. Vários municípios estão ilhados, e outros tantos perderam a capacidade de escoar sua produção em virtude da queda de pontes. Os prefeitos, que já vivem um dia a dia de penúria, não sabem antecipar quanto tempo será preciso para a retomada da rotina. Há muito a ser feito.
Os números, porém, são reveladores: os municípios não se preparam para enfrentar as chuvas. Relatórios do próprio Governo federal indicam que até mesmo as metrópoles, como as capitais, ficam aquém nos seus investimentos. Em BH, apenas 3% dos recursos foram aplicados, numa clara demonstração de aposta, isto é, poucos acreditam nas tragédias, considerando que irão acontecer apenas no município vizinho.
Essa lógica, porém, é perigosa e tem consequências. Os investimentos em saneamento, controle de encostas e combate às construções irregulares ainda são baixos. Se houvesse algum tipo de ação preventiva, o cenário seria outro. E aí que reside o problema. Os órgãos de defesa civil mantêm um discurso único de prevenção, mas nem sempre suas recomendações são levadas a sério. Há sempre a justificativa de não haver verbas para a sua execução.
Os números, no entanto, desmentem esse argumento. Quem tem projetos consegue efetuar a captação.
Ademais, a instância política pode ser um forte aliado nesse processo. Com emendas, agora, passando para o viés obrigatório, será possível fazer a indicação das prioridades, mas, de novo, é fundamental ter projetos para obtenção do repasse.
A Defesa Civil de Minas Gerais, na semana do dia 17 deste mês, irá promover um ciclo de conferências em Juiz de Fora para lideranças e organismos públicos da Zona da Mata, visando à qualificação de equipes e também apontando a importância da prevenção. A adesão é facultativa, mas, diante do momento, todos devem participar.