A chamada terceira via ainda não ganhou corpo nas recentes pesquisas de aferição das intenções de voto dos brasileiros. Os números continuam apontando para a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), enquanto os demais pré-candidatos patinam na casa de um dígito. O ex-juiz Sérgio Moro puxa o grupo, mas nem ele nem seu adversário mais próximo, Ciro Gomes, implicam alguma ameaça aos líderes da corrida eleitoral.
Com a janela eleitoral, a ser aberta nesta quarta-feira, algumas mudanças podem ocorrer. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, hoje filiado ao PSDB, tem indicado que pode migrar para o PSD de Gilberto Kassab e voltar ao páreo na corrida presidencial. Ele se apresentou aos tucanos, mas foi derrotado pelo governador João Doria nas prévias do ano passado. Sem tal amarra, seria a opção de Kassab. Antes, porém, a Executiva deve receber a desistência formal do senador Rodrigo Pacheco, até então a ficha do partido no tabuleiro político. Sem ter se mostrado interessado no jogo, o senador mineiro não deve impor qualquer resistência.
Se Eduardo Leite entrar no jogo, a discussão passa a ser a sua capacidade de mobilização para se tornar a terceira via. Ele perdeu a prévia no ninho tucano, mas o vencedor não teve o mesmo desempenho quando se apresentou ao país. O governador João Doria ainda aposta fichas, mas já não rejeita a possibilidade de abrir mão da disputa presidencial e apoiar um novo candidato. Apoiaria Eduardo Leite? Eis a questão.
O cientista político Raul Magalhães disse à coluna Painel que é prematuro dizer que a terceira via se inviabilizou. Ele considera que o eleitor ainda terá pela frente uma série de informações que podem definir sua opção. A política, de fato, tem espaço para surpresas, como ocorreu em Minas, em 2018, com a ex-presidente Dilma Rousseff, que liderou todas as pesquisas para o Senado e acabou em quarto lugar. O próprio governador Romeu Zema é uma prova de indefinição do jogo. Outsider da política, derrotou dois políticos com grande experiência: o ex-governador Antonio Anastasia e o então governador Fernando Pimentel. Este, aliás, sequer chegou ao segundo turno.
A disputa nacional tem um viés distinto, por envolver projetos mais consolidados e por significar permanência ou mudanças na gestão do país. Por isso, de fato, seja cedo cravar o embate definitivo entre os dois líderes das pesquisas.